Rio de Paz faz manifestação em Brasília contra homicídios em São Paulo

ONG carioca espalha tijolos em gramado em frente ao Congresso, em protesto contra “meio milhão” de assassinatos

ONG Rio de Paz quer reforma da polícia (Foto:Valter Campanato/ABr)

São Paulo – A Organização Não-Governamental Rio de Paz espalhou ontem (27) à noite no gramado em frente ao Congresso 960 tijolos, que representam a média do número de mortes que acontecem semanalmente no Brasil. A manifestação, que ocorre hoje (28) entre as 6h às 18h, repudia os cerca de 500 mil assassinatos que ocorreram no país nos últimos dez anos, segundo apuração da organização, os milhares de desaparecidos, que carecem de uma contabilização eficaz, e a série de homicídios que vêm aterrorizando São Paulo, onde 360 pessoas foram mortas nos últimos 50 dias.

Desde que uma onda de violência, semelhante a de hoje em São Paulo, atingiu o Rio de Janeiro em 2006, quando 19 foram assassinados, com oito pessoas queimadas vivas em um ônibus, a Rio de Paz realiza atos públicos em defesa dos direitos humanos. Agora, ela faz cinco exigências às autoridades públicas: a reforma e a valorização da polícia, a provisão de condições dignas de custódia aos presos, o estabelecimento de metas de redução de homicídio para todos os estados, a apresentação transparente das estatísticas de assassinatos dos estados e a garantia de políticas públicas mais eficazes às comunidades pobres.

“Tem-se tentado construir uma imagem de que o que está acontecendo em São Paulo é algo pontual, extraordinário, mas não é, é o maior problema social do Brasil, é algo estrutural da nossa sociedade”, disse Antônio Costa, fundador da organização, à RBA

Ele afirma que nem o governo federal nem os governos estaduais se responsabilizam pelas mortes e acredita que o poder público deva reformar estruturalmente a segurança pública, unindo as polícias Civil e Militar nos estados, convertendo-as em uma só força com ciclo completo, repressivo e investigativo.

Para Costa, as trocas promovidas pelo governo de São Paulo no comando da segurança pública e nas polícias civil e militar, são insuficientes. “Estão tentando resolver o problema com band-aids. É necessária uma grande reforma, pois vidas estão sendo perdidas”, afirmou. Ele acredita que a polícia não deve ser militarizada, mas cidadã. 

“Queremos um Estado atuante, com uma polícia atuante, próxima aos cidadãos. Esse sentimento de guerra é algo que se tem em um conflito entre nações, mas não é possível que tenhamos essa postura militar entre congeneres. Essa guerra precisa acabar.”

Costa afirma que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) são uma alternativa para São Paulo. “As UPPs foram a melhor política de segurança pública que o estado do Rio já implementou. Acredito que São Paulo está caminhando para uma política de segurança de Estado, e não de partido. Mas as UPPs, sem dúvida, poderiam ajudar”.

As UPPs – um programa do governo federal – estão instaladas em 500 favelas do Rio de Janeiro e têm sido bem avaliadas por especialistas de segurança pública. A Rio de Paz conseguiu, juntamente com outros movimentos sociais de direitos humanos, que a secretaria estadual de Segurança Pública acabasse com as carceragens, prisões provisórias da Polícia Civil em que os presos eram mantidos em condições desumanas.

A organização está divulgando uma petição online com suas propostas, que será entregue ao Ministério da Justiça. A meta é alcançar 3 mil assinaturas. Até o fechamento desta matéria, havia cerca 2,6 mil.

Em Brasília, os ativistas apresentam cartazes com os dizeres “Brasil: Meio milhão de assassinatos em dez anos. Vergonha.”.

Após a manifestação ato de hoje, os tijolos serão entregues, em ato simbólico, ao Ministério da Educação, representando, segundo Costa, a vontade de que haja mais escolas e menos presídios.

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