Comissão da Verdade pede que deputados de Santa Catarina não mudem nome de estrada

Rodovia SC-414 homenageia ex-deputado cassado e desaparecido durante a ditadura

São Paulo – A Comissão Nacional da Verdade (CNV), grupo constituído por lei federal e nomeado pela presidenta Dilma Rousseff para investigar as violações de direitos humanos cometidas pela ditadura, pediu hoje (22) que a rodovia Paulo Stuart Wright, em Santa Catarina, não tenha seu nome modificado, como querem alguns deputados estaduais. A mudança está prevista no Projeto de Lei 199/2011, aprovado em julho, que pretende rebatizar a estrada SC-414, também conhecida como Variante, para Francisco Leopoldo Fleith.

A CNV enviou comunicado ao presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, Gelson Merísio, pedindo que mantenha o veto do governador à medida: Raimundo Colombo (PSD) rechaçou o texto após ser pressionado por parte da sociedade catarinense, mas os deputados podem colocar a matéria novamente em votação e derrubar o bloqueio do Executivo. “O olvido de pessoa que se empenhou, com a própria vida, em defesa de valores da democracia gravemente compromete a formação da sociedade brasileira, que se quer sempre livre, jamais abafada pela truculência das soluções ditatoriais”, afirma o documento firmado pela CNV e apoiado por todos os seus membros. Para o coordenador da Comissão, Cláudio Fonteles, “a alteração do nome da Rodovia Paulo Stuart Wright é cabalmente despropositada”.

Natural de Joaçaba, Santa Catarina, Paulo Stuart Wright era filho de missionários presbiterianos. Após viver cinco anos nos Estados Unidos, ele retornou ao Brasil para não lutar na Guerra da Coreia. Aqui, após um período em São Paulo, retornou ao estado natal onde fundou cooperativas de pescadores e se elegeu deputado estadual. Em 1964, ano do golpe militar, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina o cassou supostamente pelo fato de não usar gravata nas sessões.

Após a cassação, ele foi viver no México e, anos depois, retornou ao país. Foi um dos organizadores da Ação Popular na região, militando na clandestinidade até ser preso, em 1973, por agentes do DOI-Codi de São Paulo. Está desaparecido até hoje. Paulo é irmão do pastor Jaime Wright, que, com o cardeal Paulo Evaristo Arns, organizou a capitalização de recursos que resultou no relatório “Brasil: Nunca Mais”, primeiro documento a denunciar ao grande público as torturas e assassinatos praticados pelo regime.

Com informações da assessoria de comunicação da CNV

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