Comissão da Verdade vai ao Pará debater repressão à Guerrilha do Araguaia

A estimativa é que 350 pessoas tenham morrido pelas mãos dos órgãos de repressão na região

São Paulo – A Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia e o Comitê Paraense pela Memória, Verdade e Justiça participam hoje (16) de audiência pública em Marabá, no Pará, com a Comissão Nacional da Verdade. A pauta do debate será a repressão à Guerrilha do Araguaia pelos militares. Segundo Paulo Fonteles Filho, representante do PCdoB no Grupo de Trabalho Araguaia e um dos organizadores do encontro, aproximadamente 350 pessoas foram executadas pelas forças repressivas na região durante o cerco aos guerrilheiros na primeira metade da década de 1970.

Os relatos colhidos pelo GT Araguaia revelam números de violações superiores àqueles supostos nas últimas décadas, aponta Fonteles. “São relatos extremamente importantes que revelam toda a violência do Estado terrorista dos generais. Os números e as violações da guerrilha do Araguaia são muito superiores e muito mas graves do que a sociedade brasileira tem compreendido nestes últimos 40 anos”, disse em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Ele ressalta que, apesar da falta de apoio dos arquivos oficiais do período, as investigações sobre a localização têm avançado bastante. “Encontramos nove ossadas em 2012, sem apoio dos arquivos do período, foi tudo baseado em informações dadas pelos camponeses e antigos agentes da repressão política.” O Grupo de Trabalho Araguaia tem como objetivo a localização e identificação dos corpos de desaparecidos políticos e é ligado aos ministérios da Defesa e da Justiça, e à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

O papel da Comissão da Verdade na busca por corpos na região do Araguaia é de extrema relevância, como explica Fonteles. “A presença da Comissão da Verdade na região do Araguaia é muito importante no sentido da luta para resgatar estes heróis do povo brasileiro. E isso é uma necessidade histórica do país.” Ele ainda aponta a falta de informações sobre os corpos como um característica da repressão no período militar. “Uma parcela significativa dos desaparecidos políticos brasileiros foi enterrada em cemitérios e sítios mortuários como indigentes. Esse foi um traço comum na ditadura brasileira”, diz. “Nosso esforço é revelar ao país toda a violência que ocorreu naquele período, sobretudo para vacinar a consciência dos brasileiros de que nunca mais podemos ter quarteladas no país, no sentido de subtrair a democracia e sufocar em liberdade públicas.”

Ouça aqui a entrevista de Paulo Fonteles Filho à repórter Lúcia Rodrigues.

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