Para Alckmin, política de segurança é certa e críticas são previstas

Governador, que detém a maior desaprovação na área de segurança pública desde 1997, tem cumprido 'agenda positiva' nos últimos dias. Hoje, ele deu entrevista em Paraisópolis

Alckmin, seguido pelo comando da PM e da Polícia Civil e por assessores, caminhou durante visita à entrada de Paraisópolis (Foto: Silva Júnior/Folhapress)

São Paulo – Depois de um mês da Operação Saturação da Polícia Militar no Jardim Paraisópolis, zona sul de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou hoje (29) que a PM vai permanecer no bairro, com viaturas, por tempo indefinido.

Pela manhã, Alckmin, o secretário de segurança pública, Fernando Grella, o chefe da Polícia Civil, Luiz Maurício Souza Blazeck, e o comandante geral da PM, coronel Benedito Roberto Meira, estiveram em umas das entradas do bairro, onde deram entrevistas. Os carros oficiais e viaturas da PM ficaram na Praça Moacyr Nicodemos, na divisa entre o Morumbi e Paraisópolis, e o governador caminhou por 500 metros, com escolta e batedores para controlar o trânsito e foi cercado por jornalistas. A visita à entrada do bairro pouco mais de meia hora e a maior parte do tempo foi usada pelo governador para dar entrevistas.

Alckmin, que teve queda de 11 pontos percentuais na taxa de aprovação de seu governo nos últimos dois meses, principalmente por conta da crise na segurança pública, tem seguido uma “agenda positiva” desde o início desta semana.

De acordo com pesquisa feita pelo Datafolha e divulgada na semana passada, o índice de pessoas que consideram ótimo ou bom o governo tucano em São Paulo caiu de 40%, em setembro, para 29% na semana passada. A taxa de pessoas que consideram a gestão de Alckmin ruim ou péssima subiu de 17% para 25% no mesmo período. Além disso, Alckmin aparece no levantamento do Datafolha com o maior índice de desaprovação na área de segurança pública desde 1997, pior que a de Cláudio Lembo durante os ataques do PCC que pararam a capital em 2006.

A atuação de Alckmin na segurança pública foi avaliada como ruim ou péssima para 63% dos entrevistados pelo Datafolha. Lembo teve uma taxa de 56% de desaprovação em pesquisa realizada após os ataques de 2006.

Desde setembro, os casos de homicídios aumentaram no estado e em outubro registram aumento de 92% em relação ao mesmo período do ano passado. Entre janeiro e outubro de 2012 já foram registrados pelo menos 1.157 casos, o que supera todos os homicídios registrados nos 12 meses de 2011. Além deste aumento, os assassinatos de policiais e agentes de segurança, por integrantes do crime organizado, e a suposta existência de grupos de extermínio por parte da PM que atuam em bairros pobres aumentam a sensação de insegurança.

Alckmin, que apresentou números sobre prisões (107 pessoas) e apreensões de armas (18), munições (407) e drogas (344 quilos de maconha, 59 quilos de cocaína e 783 gramas de crack), disse achar que a política de segurança pública no Estado de São Paulo está no rumo certo e que não tem problemas com as críticas que tem recebido por conta da crise na segurança. “Prefiro aquele que me critica, porque me corrige, do os que me bajulam, porque me corrompem”, disse, ao ser questionado sobre a repercussão negativa de sua política de segurança na sociedade e entre especialistas do setor.

Moradores de Paraisópolis afirmam que a presença da PM diminuiu os assaltos na avenida Doutor Flávio Américo Maurano, que divide o bairro de moradores de baixa renda com o vizinho Morumbi, bairro de classe alta, com casas e apartamentos de alto padrão que contrastam com as habitações de blocos sem reboque, vielas e barracos. “Pena que ele só vem até a  entrada do bairro, e só para falar com os jornalistas. Seria bom um dia ele visitar o bairro todo e conversar com os moradores também para saber como a gente vive, o que é bom e o que é ruim por aqui”, disse a faxineira Maria Rita de Lima. Para ela, a Operação Saturação da PM não alterou o sentimento de segurança no bairro. “Para a gente aqui, não mudou nada porque para os moradores o bairro sempre foi seguro”, disse.

De acordo com o comandante da PM, a operação no Paraisópolis surte efeito na segurança porque foram presos líderes do crime organizado que estavam diretamente ligados a mortes de policiais. Segundo Meira, agora a Operação Saturação entra em outra fase, com menos policiais, mas com equipes formadas por militares e viaturas e permanência 24 horas por dia.

Na operação em Paraisópolis foi mobilizado um efetivo de 100 viaturas, dois caminhões, 28 motos, 60 cavalos, oito cães e um helicóptero. Segundo o comandante, agora será adotado um novo esquema de segurança para o local, com redução das viaturas, sem a participação de operação permanente da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e o aparato inicial, divisão do bairro por quadrantes e a permanência de equipes militares em tempo integral.  

Para uma comerciante que mora em Paraisópolis há mais de 30 anos e que prefere não se identificar, neste um mês de ocupação os casos de abuso de autoridade dispararam no bairro. “Não são todos, claro, mas tem muito PM que já chega xingando na hora da abordagem, bate na cara de trabalhador, joga mochila com os pertences no chão, e humilha a gente. Teve caso até de policial que subiu na laje e foi revistar morador que tava colocando roupa para secar. Em bairro de rico eles não invadem a casa de ninguém sem ordem da Justiça”, disse.

 

Leia também

Últimas notícias