São Paulo – No Dia Mundial da Habitação, a relatora das Nações Unidas sobre o Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik, pediu hoje (1º) que se dê mais atenção ao direito à moradia digna e que se regule a mercantilização do acesso à moradia. Em entrevista para a Rádio ONU, Raquel explicou que o sistema que vem sendo adotado pelo Brasil, com incentivo ao crédito para aquisição da casa própria, já está apresentando seus problemas no Chile e é baseado no mesmo modelo que tem deixado milhares de pessoas sem casa em vários países do mundo.

A relatora afirma que o controle da habitação pelo setor financeiro, nos Estados Unidos e na Espanha, por exemplo, resultou em uma enorme crise que deixou os mais pobres em maior situação de vulnerabilidade, por não conseguirem mais pagar o financiamento de suas casas. Quem não chega a perder a casa acaba sofrendo com a moradia em condições inadequadas, ao mesmo tempo em que milhares de casas permanecem vazias. Para a relatora, esse modelo é absolutamente perigoso, e vem afetando países tão distintos como China e México.

Raquel explica que o modelo de política habitacional baseado apenas em crédito para aquisição de moradia, como vem sendo feito no Brasil, leva a população mais pobre a uma situação de risco. “Esse tipo de programa só funciona enquanto trabalho e renda crescem. Qualquer turbulência econômica coloca essa população em risco de perder sua casa”, afirma. Além disso, ela cita como exemplo o Chile, onde, segundo ela, problemas de segregação, má qualidade das casas e degradação do espaço urbano têm sido o resultado desse tipo de política habitacional.

Para Raquel, a expansão habitacional pelo crédito está em crise no mundo todo. “Deve-se tomar o direito humano à moradia adequada em todos os seus elementos como base para uma política habitacional e assim se perceberá que uma habitação não é só uma casa e quatro paredes, que você compra no mercado e leva”, diz.

ouça a entrevista completa