Para movimento, novo comando da Rota mostra caráter ‘fascista’ do governo de SP

Troca promovida pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) 'premia' outro coronel que participou do massacre do Carandiru

São Paulo — Militantes que compõe a Rede Dois de Outubro, formada por movimentos sociais e organizações de direitos humanos, classificaram de “mais do mesmo” a nomeação do tenente-coronel Nivaldo César Restivo para o comando das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), que participou do massacre do Carandiru. A afirmação foi feita durante coletiva de imprensa, na manhã de hoje (28), no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Para os integrantes da Rede, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) está reafirmando a lógica de violência e extermínio praticada pela Polícia Militar em São Paulo.

Recém-nomeado comandante da Rota, Nivaldo Cesar Restivo figura entre os 119 policiais denunciados no episódio do massacre do Carandiru, quando 111 presos foram assassinados, em 2 de outubro de 1992. Ele teria participado do espancamento de 87 detentos durante a operação de rescaldo, em que os policiais teriam feito um corredor polonês para agredir os presos. Restivo assumiu o lugar do tenente-coronel Salvador Madia, que também responde a processo sobre o massacre, junto com outros policiais, por 78 mortes.

Para o coordenador nacional da Pastoral Carcerária, padre Valdir Silveira, essa nova nomeação tem a ver com a política de premiação com que o Estado valida sua lógica de violência e repressão. “Quero ressaltar a nossa indignação com essa premiação dos militares que participaram do massacre do Carandiru. Você não só não teve o julgamento como teve, pelo Estado, o fortalecimento dessas pessoas, como se eles tivessem agido corretamente. Isso tudo vai justamente no caminho da afirmação da violência, da morte e do encarceramento”, diz Silveira.

Coordenadora do movimento Mães de Maio e da Rede Nacional de Familiares de Vítimas de Violência Policial, Débora Maria da Silva se disse indigna com o que ela chama de pacto em relação a violência estatal e a impunidade. “Nós repudiamos essa atitude do governo de São Paulo. É inaceitável um Estado fascista como esse, que coloca à frente das forças policiais, geralmente, pessoas que participaram de massacres ou outras atrocidades contra a sociedade, que são réus em processos de assassinato ou qualquer outra violência”, afirma Débora.

Até hoje ninguém foi responsabilizado pelas 111 mortes no massacre, apesar do número de denunciados. O Coronel Ubiratan Guimarães, comandante da invasão ao presídio, chegou a ser julgado e condenado em 2001. No ano seguinte ele foi eleito deputado federal por São Paulo, quando recorreu da condenação e teve a pena anulada. Guimarães foi assassinado em 2006, supostamente pela namorada, Carla Cepollina.