Grito dos excluídos protesta contra ‘imobilidade social’ do Estado, diz CNBB

Para lideranças de movimentos sociais, governo brasileiro está 'menos surdo', mas ainda falta promover mudanças profundas 'nas estruturas'

Ato do Grito dos Excluídos de 2011, em Salvador. Estado sem mudanças estruturais manterá exclusão social (CC/bahia.gov.br)

São Paulo – O Grito dos Excluídos chegou à sua 18ª edição desde o último sábado (1). Durante uma semana, haverá manifestações, seminários e ações de protesto, em todos os estados do Brasil (com exceção do Acre), com o tema: “Queremos um Estado a serviço da nação, que garanta os direitos de toda a população”. Ao convocar a população a acompanhar as manifestações programadas, Dom Guilherme Antônio Werlang, presidente da Comissão Episcopal Pastoral, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), promotora do evento, disse que os movimentos sociais exigem mudanças profundas. “O Estado faz pequenas concessões, mas não muda sua estrutura”, disse o religioso.

D. Werlang reconheceu que o Estado brasileiro tornou-se “menos surdo” aos gritos dos grupos sociais considerados excluídos, a partir dos  últimos governos federais. “Tivemos avanços, sim, mas seu modelo, sua essência, continua servindo aos interesses do capital internacional”, afirmou. “O Estado é uma empresa particular. Ele tem um entendimento sobre desenvolvimento complicado, que favorece a poucos e afeta populações injustamente. Daremos, neste ano, um grito contra a gentrificação que ele vem promovendo”, disse D. Werlang – gentrificação é o processo urbanístico pelo qual se busca “enobrecer” bairros e cidades ao substituir moradores menos favorecidos economicamente por novos imóveis e empreendimentos para os que tenham maior poder aquisitivo.

Nesta edição do Grito dos Excluídos, que começou em 1995, será dada ênfase à luta contra a construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte, na bacia do Rio Xingú, no Pará. A obra é alvo de protestos de indígenas, grupos socioambientais e do Ministério Público paraense, por conta dos impactos que já causa e ainda causará na região.

Iury Paulino, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens, disse que a estratégia energética do país não busca atender a toda a população. “Belo Monte nada mais é do que a evidência de que a estratégia política de energia é feita para atender as grandes construtoras, mineradoras e empresas internacionais”, afirmou. Ele comentou que a energia que vai ser produzida atenderá mais à iniciativa privada, do que a população. “O problema não é a barragem, mas a quem ela servirá. As pessoas não entendem que as cidades próximas às barragens não usufruem da energia produzida por elas”, disse.

Para Yuri, o empreendimento de Belo Monte não levou desenvolvimento às cidades afetadas por ele, mas sim problemas urbanos, com uma concentração demográfica impossível de ser atendida pelos serviços públicos que elas ofereciam. “Não entendo quando dizem que com Belo Monte, a região passará a ter escolas e um serviço eficaz de saúde. O que uma coisa tem a ver com a outra? Por que precisa de barragem pra ter escola?”, questionou.

Paula Ribas, presidente da Associação dos Moradores da Santa Ifigênia/Luz, comentou que a organização social tem alcançado bons resultados. Essa associação protesta contra o projeto Nova Luz, de Gilberto Kassab (SP), que procura transformar parte da região central de São Paulo em um espaço de especulação imobiliária, e chega a terceirizar a construtoras direito e poder para desapropriar moradores e comerciantes. “O Estado, a prefeitura, vão ter que ouvir a gente, porque nós nos unimos e nos manifestamos”, disse ela.

Na semana passada, moradores, comerciantes e empregados da região conseguiram que candidatos à prefeitura assinassem uma carta de compromisso de revisão do projeto, num ato público organizado na rua Santa Ifigênia, que historicamente abriga o comércio de eletrodomésticos e eletrônicos. Paula afirmou que há diversos processos jurídicos que procuram alterar o projeto, para que ele vise a inclusão social de moradores menos favorecidos economicamente.

Outro grito deste ano será contra a violência institucional cometida contra a juventude, em particular a juventude pobre, de acordo com Ettore Meireles, integrante da Pastoral da Juventude de São Paulo. “A violência (contra essa parcela da população) cresceu 400% nos últimos dois anos. Homossexuais e negros estão sendo exterminados. A polícia trata como criminosos os jovens, que, muitas vezes, procuram o lazer nos espaços públicos, como as praças, pois é só isso que lhes resta”, comentou.

O Grito dos Excluídos abordará, em todo país, a questão da moradia. “O Estado tem a obrigação de fornecer moradia digna, mas não o faz”, disse Ari Alberti, da Coordenação do Grito dos Excluídos. Os problemas da fome e da falta de saneamento básico generalizado também farão parte das pautas das manifestações. “Embora o Brasil seja a sexta economia do mundo, é um dos países mais desiguais. Gritaremos contra isso”, afirmou.

Tradicionalmente, no dia 7, data em que se celebra a independência do Brasil, o movimento organiza grandes passeatas em diversas cidades do Brasil. São Paulo terá três grandes marchas. Suas datas exatas, contudo, ainda não foram definidas.

 

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