Documentário discute condição de vida da população de rua em São Paulo

Os estudantes da Faculdade de Direito querem dos candidatos à prefeitura um compromisso com as condições humanas (Foto: Valter Campanato. Arquivo Agência Brasil) São Paulo — O curta-documentário Eu Existo trata […]

Os estudantes da Faculdade de Direito querem dos candidatos à prefeitura um compromisso com as condições humanas (Foto: Valter Campanato. Arquivo Agência Brasil)

São Paulo — O curta-documentário Eu Existo trata a questão dos moradores de rua com sensibilidade e clareza, sem recorrer a uma apelação emocional. Partindo de relatos das próprias pessoas, com base na ideia de que quem vive a situação tem mais condições de explicá-la, o filme discute a invisibilidade social, a violência, os albergues e os vícios, com a participação de especialistas e do coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, Anderson Lopes. O curta tem pouco mais de 16 minutos e foi produzido por alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo, que compõem a atual diretoria do Centro Acadêmico XI de Agosto. Como objetivo maior, os jovens do XI de Agosto pretendem sensibilizar a sociedade sobre a situação e a condição humana da população de rua e obter compromisso dos candidatos à prefeitura de São Paulo com relação aos direitos humanos. Para isso estão estudando a possibilidade de realizar exibições em universidades e espaços culturais nas diversas regiões da cidade. 

Acompanhe a seguir entrevista com a diretora do Centro Acadêmico XI de Agosto Júlia Cruz.

Qual foi objetivo de vocês ao produzir o documentário Eu Existo?

Nosso objetivo primordial é obter dos candidatos à prefeitura um compromisso com a situação da população de rua, a respeito dos direitos humanos no centro de São Paulo. A ideia é disseminar esse vídeo na sociedade civil, para fazer pressão para que os candidatos assumam esse compromisso. Além disso, queremos sensibilizar a sociedade como um todo para a questão dos moradores de rua, tirando-os da invisibilidade que sofrem. A gente percebeu durante a produção do documentário, e que é o mote do filme, as pessoas em geral agem como se os moradores de rua não existissem, como se fossem invisíveis, ou os tratam mal. Então, a ideia é também contribuir para que haja um tratamento mais humano.

Como vocês pretender fazer com que os candidatos a prefeito assumam esse compromisso?

Nós estamos realizando aqui no Largo São Francisco uma série de eventos com todos os candidatos. São eventos com modelo de roda viva, em que alunos, professores e todos que estiverem por ali podem fazer perguntas ao candidato. A primeira é sempre do Centro Acadêmico, no sentido de saber qual o compromisso dele para com o centro de São Paulo e com os direitos humanos e a população de rua. E a gente entrega para cada um deles uma cópia do documentário. Convidamos todos eles para vir participar da atividade de roda viva. Na semana passada os candidatos Gabriel Chalita e Levy Fidelix estiveram aqui e assumiram o compromisso. Na próxima semana estarão o Fernando Haddad (PT), a Soninha Francine (PPS) e a Ana Luíza Caproni (PSTU). Os demais candidatos ainda não confirmaram data para sua participação.

Como vocês definiram os temas de que tratariam no filme?

O documentário foi gravado a partir de uma série de eventos que a gente fez no Largo, fora da faculdade, no primeiro semestre desse ano. Começava com uma manifestação cultural, com teatro, música e poesia, e conforme as pessoas iam se aglomerando para assistir a manifestação cultural, que eram estudantes, trabalhadores da região e os próprios moradores de rua, nós fazíamos discussões sobre a rua. Os temas tratados no filme — albergues, violência, drogas, invisibilidade social — são demandas que nos foram trazidas durante essas atividades, vindas, sobretudo, da própria população de rua.

Como surgiu a ideia de produzir um documentário sobre a população de rua?

Aqui na faculdade nós temos uma clínica de direitos humanos. A clínica tem uma metodologia bem legal que mistura teoria e prática o tempo todo. Eles mantêm uma ouvidoria para a população de rua, para ouvir denúncias e dar encaminhamento jurídico. Ao mesmo tempo eles estudam muito o tema, com bases teóricas as mais diversas. Eu fiz parte desse trabalho e, além de ser muito tocada pela questão da população de rua, gostei muito do trabalho do pesquisador americano Daniel Kerr. Ele fez uma pesquisa a partir do seguinte mote: as pessoas que estão nas ruas sabem qual é o problema com as políticas públicas e sabem o que deveria melhorar. A gente gostou muito dessa ideia de ouvir as pessoas para resolver seus próprios problemas. No entanto, transpondo isso para o Brasil, nós queríamos uma linguagem mais acessível. No grupo temos várias pessoas que se envolvem com teatro, que trouxeram um pouco da linguagem cultural para o projeto. De outro lado queríamos uma forma que permitisse a divulgação pelas redes sociais, onde surgiu a ideia de ser um vídeo curto. 

Qual a importância de alunos da graduação do direito estarem envolvidos em um projeto como esse?

O Centro Acadêmico XI de Agosto tem uma história muito significativa de luta pela democracia e pelos direitos humanos. Desde a luta do “Petróleo é Nosso”, a luta pelas “Diretas Já”, o “Fora Collor”, como também a movimentação pela criação da Defensoria Pública, pelo desarmamento. O Centro Acadêmico sempre se envolveu com diversas bandeiras sociais e sempre teve muito orgulho disso. E nos soava muito contraditório que a gente propagandeasse essa história aos quatro ventos e, ao mesmo tempo, tivesse violações de direitos humanos ocorrendo, literalmente, na porta da faculdade. Embora todos se indignem com as violações que gente vive vendo aqui na frente, de Guardas Civis sendo violentos, tomando bens e documentos das pessoas, não se sabia como reagir a este processo. Foi por isso que nós desenvolvemos esse trabalho e esperamos que contribua nesse processo.

Assista a seguir ao documentário Eu Existo:

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