Críticos da violência policial são tratados como ‘facção criminosa’ em ato pró-PM

Deputados, policiais e claque arregimentada nos Consegs lotam Assembleia de SP para atacar entidades que pedem o fim do extermínio de jovens da periferia

Roberval França, comandante-geral da Polícia Militar paulista e Barros Munhoz, presidente da Alesp, durante audiência de enaltecimento à PM (Agência Alesp)

São Paulo – O coronel Jairo Paes de Lira, ex-deputado federal, ex-comandante metropolitano da Polícia Militar em São Paulo e candidato a vereador pelo DEM na capital, afirmou ontem (7), durante ato de desagravo à PM na Assembleia Legislativa, que as pessoas e as entidades que defendem os cidadãos das arbitrariedades e violências cometidas pela Polícia Militar no estado fazem “parte de facções criminosas”.

Ele se referia especificamente aos presentes à audiência pública contra o extermínio de jovens, realizada no dia último dia 26 na sede do Ministério Público Federal (MPF), em São Paulo. Além de promotores e de defensores públicos, participaram daquela audiência grupos de defesa dos direitos humanos como a Pastoral Carcerária e o movimento Mães de Maio, que cobram o governo do estado pelos assassinatos, desaparecimentos e outras violências cometidas pela PM, principalmente contra jovens da periferia.

O ato de ontem na Assembleia, organizado por deputados que defendem a atuação da PM, reuniu políticos, policiais e pessoas convocadas pela própria PM para levar-lhes apoio. Roberval Ferreira França, comandante- geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, e Barros Munhoz, presidente do Legislativo paulista e que presidiu a sessão, foram outros destaques entre os presentes.

A mobilização foi feita pelo comando da PM, que convocou os Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs) e lotou o auditório principal da Assembleia. Representantes de vários bairros de São Paulo e de cidades da região metropolitana estiveram presentes. Itaquaquecetuba, por exemplo, levou um ônibus com 50 estudantes de escolas públicas. Algumas faixas de apoio à PM e cerca de 50 cruzes, representando os policiais mortos esse ano no estado, foram erguidas. 

O ato serviu como “desabafo e desagravo” à audiência realizada na sede do MPF. Na ocasião, o promotor federal Matheus Baraldi afirmou que as tropas da polícia estavam fora controle, o que justificaria o afastamento do comando da instituição. Em função disso, o deputado Major Olímpio (PDT) entrou com duas representações contra o promotor.

A maioria dos que subiu à tribuna da Assembleia defendeu a polícia, tratou as mortes ocorridas nos últimos meses como falhas pontuais e criticou Baraldi. “Uma pessoa que desvaloriza a sua polícia, que luta do lado do crime, eu não entendo essa pessoa como uma pessoa do lado do bem. Eu só posso ver interesses escusos numa atitude dessa”, disse coronel Paulo Adriano Lopes Telhada, ex-comandante da Rota e candidato a vereador por São Paulo pelo PSDB.

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