Traficar pessoas nas rodovias é estratégia dos criminosos; PRF busca inteligência

Polícia Rodoviária Federal começou a mapear 70 mil quilômetros de rodovias no Brasil e nas fronteiras com 15 cidades gêmeas para definir as rotas nacionais e internacionais do crime

Pontos vulneráveis de exploração sexual podem levar aos traficantes de pessoas (Foto: Leonardo Morais/Racismo Ambiental)

São Paulo – Aliciar crianças, adolescentes e mulheres para exploração sexual nas rodovias é uma das estratégias das redes do crime de tráfico de pessoas. As pessoas acabam levadas a fazer programas em postos de gasolina, dentro de carros ou caminhões e até mesmo em matagais. Um levantamento divulgado em maio pela Polícia Rodoviária Federal apontou 1.776 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais do Brasil. O número é pouca coisa (2,42%) menor do que no ano anterior. Como os casos de exploração sexual podem levar ao tráfico de pessoas, a PRF também começou a mapear os 70 mil quilômetros de rodovias no Brasil e nas fronteiras com 15 cidades gêmeas para definir as rotas nacionais e internacionais desse crime. A PRF conta com 9.194 policiais.

O levantamento das rotas ainda depende da liberação de verba para conclusão, se possível, ainda neste ano. Algumas informações sigilosas já foram repassadas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do tráfico de pessoas na Câmara dos Deputados. Para a presidenta da Comissão Nacional de Direitos Humanos da PRF, Márcia Freitas Vieira, a divulgação antecipada dificultaria a repressão às quadrilhas.

No entanto, ela informou que a PRF realizou 19 operações de repressão ao trabalho escravo em que foi caracterizado o tráfico de pessoas. Nesses casos, a polícia chama o Ministério do Trabalho para cuidar das vítimas e a PRF busca os crimes correlatos. 

As quadrilhas podem ser caracterizadas como muitas e pequenas. São raras as que usam coiotes (pessoas que facilitam a travessia ilegal nas fronteiras), segundo Márcia. “Mas elas estão cada dia mais organizadas”, diz. Tanto que antes não havia tráfico de pessoas em rota comercial de ônibus, mas hoje em dia já ocorre. “É uma tentativa de desconfigurar o crime pela tentativa de colocar as pessoas traficadas junto aos passageiros normais”, afirma Márcia.

Daí a necessidade de capacitar os policiais, sensibilizá-los para a gravidade do crime e a necessidade de combatê-lo. “A Polícia Rodoviária precisa desenvolver atividades de inteligência para acompanhar o ritmo dos criminosos”, admite Márcia. 

Segundo Márcia, os casos mais comuns de tráfico de pessoas identificados nas rodovias estão associados além da exploração sexual ao trabalho escravo de estrangeiros.  

Pontos vulneráveis

Dos 1.776 pontos vulneráveis apontados no levantamento da PRF, 398 ficam na região Centro-Oeste do país, 371 no Nordeste, 333 no Norte, 358 no Sudoeste e 316 no Sul.  Do total, 65,9% (1.171) são considerados como críticos e de alto risco de vulnerabilidade. Minas lidera a lista dos estados, com 252 pontos; seguido pelo Pará, com 208; Goiás, com 168; Santa Catarina, com 113; e Mato Grosso, com 112. No Amapá, só foram localizados cinco pontos.

À época da divulgação do mapeamento, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, criticou a postura da sociedade brasileira e de governantes em relação ao tema. “Os olhos e a consciência que se fecham para esta realidade são os principais problemas do Brasil hoje para a violência sexual”, afirmou. 

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