Ao ‘escrachar’ estátua de Castello Branco, jovens chamam atenção para torturadores vivos

Grupo colocou uma faixa escrito 'ditador do Brasil 1964' no monumento no Leme, no Rio, e jogou tinta vermelha no monumento para lembrar os mortos e desaparecidos da ditadura militar (1964-1985)

Manifestantes exigem a punição de torturadores e que espaços públicos não prestem homenagens a personalidades da ditadura (Henrique Zizo/AMVJ)

São Paulo – Ao realizar um ato de “escracho” contra a estátua do general Humberto de Alencar Castello Branco, primeiro ditador do período autoritário (1964-1985), jovens do Rio de Janeiro chamaram a uma reflexão sobre o legado do regime e a impunidade contra os agentes do Estado que cometeram violações. 

De acordo com Tiago Ferreira, integrante do Levante Popular da Juventude, o objetivo dos escrachos, que têm sido realizados com frequência nas capitais brasileiras, é desmascarar a história recente do país e expô-la para a população em geral. “Muitos militares que hoje estão na reserva atuaram ativamente na ditadura militar, muitos foram torturadores e estão impunes”, disse Ferreira.

No domingo (29), cerca de 150 pessoas representanto organizações juvenis, movimentos sociais e entidades de direitos humanos se uniram para realizar um “escracho” que teve como alvo o monumento a Castello Branco, na praça do Leme, no Rio de Janeiro. Os escrachos são atos de repúdio contra a impunidade de torturadores e outros agentes da ditadura, que também exigem maior poder de ação para a Comissão da Verdade, que investiga violações de direitos humanos ocorridas entre 1964 e 1985.

Segundo Ferreira, o ato marca um novo momento, no qual as organizações pretendem publicizar e convidar a população em geral para participar das ações, de forma que mais gente conheça a história do regime militar.

A manifestação começou com uma marcha da orla de Copacabana, passando por ruas do bairro até a praia do Leme. Portando faixas e cartazes com fotos de desaparecidos políticos, os manifestantes leram poemas e realizaram uma mística para lembrar os mortos e desaparecidos na ditadura. Depois colocaram uma faixa no monumento com os dizeres “ditador do Brasil 1964” e lançaram tinta vermelha aos pés e ao redor da estátua, simbolizando o sangue derramado das vítimas.

Castelo Branco foi um dos responsáveis pela articulação do golpe militar. Fechou sindicatos e partidos políticos, cassou parlamentares e promulgou diversos decretos-lei e quatro atos institucionais que serviram de base para o estabelecimento do regime. Ficou no poder da deposição de João Goulart, em 1º de abril de 1964, até março de 1967.

Os participantes do ato cobraram a punição dos torturadores e assassinos do regime militar, ampla apuração dos crimes pela Comissão da Verdade e o fim das homenagens a opressores do povo brasileiro, com a retirada dos nomes deles de praças, ruas e monumentos. As organizações pleiteiam ainda a construção de dois centros de memória sobre a repressão, um deles na região central, na antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), e outro na região serrana, na chamada Casa da Morte, em Petrópolis.

Em maio, a Articulação Nacional pela Memória, Verdade e Justiça organizou escrachos contra agentes da ditadura em 12 estados. Neste último ato, a organização foi feita pela Articulação Estadual pela Memória, Verdade e Justiça do Rio de Janeiro composta pelo Coletivo RJ, Comitê pela Memória, Verdade e Justiça de Niterói, Consulta Popular, Levante Popular da Juventude, Grupo Tortura Nunca Mais, MST, Juventude do PT, PCdoB, UNE e Sindicato Estadual dos Professores de Educação (Sepe).

 

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