‘Deitaço’ ironiza guarda de Kassab e alerta para violência contra moradores de rua

Grupo teatral questionou política da prefeitura deitando nos mesmos espaços onde a população de rua é impedida de ficar pela Guarda Civil Metropolitana

São Paulo — Cerca de 60 pessoas realizaram, na tarde de hoje (26), uma manifestação exigindo o fim das ações violentas e da remoção forçada da população de rua, realizadas pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), estrutura de segurança da prefeitura de São Paulo. O grupo, que estava bem vestido, estendeu cobertores de feltro e se deitou na frente da Catedral da Sé, logo abaixo do Marco Zero. De acordo com os organizadores, o ato pretendeu questionar a diferença de tratamento dado ao povo de rua e aos ‘bem aparentados’.

As pessoas que passavam pela Sé olhavam com perturbação o grupo deitado. Gente tricotando, lendo, dormindo, com óculos escuros, de terno ou roupas sociais. Muitos paravam e perguntavam de que se tratava. Uma viatura da GCM passou pelo local, desviou do grupo e foi embora. Um grupo de policiais militares em uma base comunitária a poucos metros do local conversava tranquilamente. O ato foi organizado por um grupo teatral e convocou pessoas pelas redes sociais para participar da ação.

De acordo com a atriz Marina Tranjan, da Cia. Auto Retrato, a ideia de realizar a manifestação surgiu após o grupo presenciar uma abordagem violenta da GCM a moradores de rua, que tiverem seus pertences apreendidos. “Tomaram tudo deles, cobertor, mochila, documentos, mas a gente estava perto, com coisas espalhadas no chão, e não fomos perturbados”, diz. O grupo resolveu então procurar a Defensoria Pública para se informar sobre o que poderia fazer. E realizar intervenções de rua para provocar reflexão da população sobre o caso.

Algumas pessoas concordam com a ideia. Outras, nem tanto. Para a agente escolar Márcia Cristina, fazer ato na praça não vai mudar a vida da população de rua. “Devia ter uma lei que obrigasse os empresários a dar cursos e empregar as pessoas em situação difícil”, diz. Para Márcia, a questão é mais profunda e precisa ser tratada com mais seriedade do que encenações teatrais. Já a estudante de Direito Milena Tavares acredita que é importante grupos de pessoas fazerem ações assim e concorda que remover as pessoas não resolve o problema. “Precisa fazer alguma coisa, gerar emprego, moradia, pois ficar empurrando pra lá e pra cá só aumenta o problema.”

Marina esclarece que esta ação era meramente simbólica. “Os atos de rua procuram sensibilizar as pessoas para que denunciem abordagens truculentas contra a população de rua, que ajudarão a Defensoria a propor a ação”, complementa. O grupo pretende realizar outras ações na cidade e estabelecer parcerias com organizações de direitos humanos

Em 4 de julho, o promotor de direitos humanos do Ministério Público Estadual, Alexandre Marcos Pereira, denunciou que, sob ordens da prefeitura, a GCM tem cometido abusos em abordagens e que sua principal função é de expulsar os moradores de rua de áreas onde sua presença é considerada inapropriada. A ação exige uma indenização de R$ 20 milhões, cuja metade deve ser destinada para projetos de interesse social e metade para eventuais pedidos de indenização.

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