Brasil ajudará FAO a montar estratégias de combate à fome em países pobres

'A segurança alimentar é um tema que a FAO conseguiu fazer com que todos os países aceitassem debater. Foi o que ocorreu na Rio+20', diz representante da entidade no Brasil

Para Gustavo Chianca, o Brasil “é um exemplo de combate à fome” e todos os programas que foram desenvolvidos pelo governo hoje são modelos que podem ser utilizados por outros países (Foto: FAO/ONU)

São Paulo – Prestes a chegar em 2015 como um dos únicos países a atingir a primeira meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) – que é o combate à fome –, o Brasil passará a oferecer ajuda e acompanhamento a países que pretendem atingir este objetivo e que ainda não têm programas de segurança alimentar. A informação é do representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil, Gustavo Chianca.

Nesta semana, o governo brasileiro e o órgão da ONU assinaram um acordo de cooperação para fortalecer a segurança alimentar no Brasil e no mundo. A ideia é usar os respectivos recursos técnicos e humanos para a realização de treinamentos, estudos e diagnósticos baseados no intercâmbio de experiências entre os países da Tríplice Fronteira e outros países da América Latina e do Caribe.

O Brasil atingiu a meta do combate à fome no ano de 2010, portanto, cinco anos antes do fim do prazo estabelecido pela ONU. Segundo Gustavo Chianca, o Brasil “é um exemplo de combate à fome” e todos os programas que foram desenvolvidos pelo governo hoje são modelos que podem ser utilizados por outros países.

No começo deste mês, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou estudo no qual afirmou que três dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio foram atingidos mundialmente antes do prazo final, de 2015, mas nem por isso a situação é confortável. Até agora, os estados-membros conseguiram reduzir pela metade o número de pessoas vivendo na extrema pobreza, cortar à metade a proporção de pessoas sem acesso a água potável e melhorar a vida de pelo menos 100 milhões de habitantes de favelas. 

Confira a entrevista a seguir:

Do que se trata o acordo firmado entre a FAO e o Brasil?

É um acordo de cooperação que visa a apoiar a cooperação Sul-Sul do Brasil para outros países, via FAO, com apoio técnico de ambos os lados. É uma junção de forças. Esse acordo tem como função apoiar os trabalhos e desenvolver estratégias de cooperação nas áreas de segurança alimentar, agricultura familiar, meio ambiente, pesca. Enfim, em várias áreas que tiveram trabalho forte desenvolvido no Brasil com lições aprendidas nessas regiões.

Em 2000, foram lançados os Objetivos do Milênio e o primeiro objetivo era que todos os países até 2015 conseguissem erradicar a fome. E o Brasil superou as expectativas.

A FAO tem no Brasil uma atuação cada vez maior. A nova direção da FAO, que tem o brasileiro José Graziano no comando, está dando um apoio muito grande à descentralização da FAO e com isso ele solicitou que fossem abertos escritórios regionais, que estarão ligadas ao escritório da FAO no Brasil, para poder acompanhar e dar uma resposta às demandas da FAO nas regiões.

Por que o Paraná foi escolhido para receber o primeiro escritório?

O escritório da região Sul foi o primeiro descentralizado, iniciando o processo com esse escritório. Foi escolhida a região do Paraná pois nós ja tínhamos um acordo com o governo do Paraná e com a Itaipu binacional, que já colabora com a FAO na área de energia. E em função disso, o Paraná pode oferecer condições.

Quais os programa que serão abordados, tanto do Brasil quanto da FAO?

Nós temos o projeto “América Latina e Caribe Sem Fome”, que trabalha com a erradicação da fome e dá apoio aos países para montarem suas estratégias de combate à fome e segurança alimentar.

A FAO tem esse tema como prioritário e o Brasil evoluiu muito nessa área e tem expertise e lições aprendidas muitos importantes. Outro tema  é a aquicultura, que é também um meio de transferir tecnologia importante para países, e também a agricultura familiar, gestão de propriedades, de transformação em produtos.

Além de os programas brasileiros serem incorporados em outros países nós também recebemos cooperação técnica de outros países que tenham conhecimento. Colaboração com todas as vias. Essa ideia na região sul é centralizar os paises da Tríplice Fronteira, da América do Sul e alguns países africanos que a FAO trabalhará em conjunto com o governo brasileiro.

Qual a visão que os outros países têm do Brasil em relação ao combate à fome?

O Brasil é um exemplo de combate à fome. Em 2000, foram lançados os Objetivos do Milênio e o primeiro objetivo era que todos os países até 2015 conseguissem erradicar a fome. E o Brasil superou as expectativas. É um dos poucos países que vai conseguir atingir esse resultado antes do prazo. Os programas que foram desenvolvidos pelo governo hoje são modelos que podem ser utilizados por outros páises para criarem seus programas.

Na Rio+20 as expressões “segurança alimentar” e “erradicação da fome” foram temas que entraram no texto final da conferência, sendo considerada uma vitória. É isso mesmo?

Além de os programas brasileiros serem incorporados em outros países nós também recebemos cooperação técnica de outros países que tenham conhecimento.Essa ideia na região sul é centralizar os paises da Tríplice Fronteira, da América do Sul e alguns países africanos que a FAO trabalhará em conjunto com o governo brasileiro.

É um tema que entrou na pauta da agenda do desenvolvimento sustentável, então, a FAO, por meio de suas resoluções, sempre tem apontado para esse lado. O acesso à terra, à inclusão, o combate à fome, como uma pauta do desenvolvimento sustentável e isso foi um ganho para a FAO e para o mundo. E, sim, representou uma das vitórias mais importantes desse texto. A segurança alimentar é um tema que a FAO conseguiu fazer com que todos os países aceitassem debater. Inclusive foi o que ocorreu na Rio+20.

 

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