Ocupa Sampa completa um mês no centro de São Paulo

Movimento quer chamar a atenção da sociedade e do governo para sua causa, a 'real democracia'

Em 15 de outubro, grupo começou a ocupar o Vale do Anhangabaú; hoje cerca de 400 pessoas participam do movimento (Foto: Divulgação/©Janelinha/Flick)

São Paulo – O movimento Ocupa Sampa completa nesta terça-feira (15) um mês de acampamento no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, com expectativa de crescimento. Os “indignados”, como se autodenominam, têm o propósito de se espalhar pela cidade para, cada vez mais, chamar a atenção da sociedade e do governo para sua luta pelo apartidarismo, pela não violência e a busca pelo consenso em uma democracia onde não haja líderes e todos participem das tomadas de decisão.

O Ocupa Sampa deriva do movimento “Occupy”, que  teve início em 15 de setembro, quando pessoas de todo o mundo se uniram para atender a um chamado convocado pelas redes sociais em nome da “real democracia”. O protesto instalou-se nos baixos do Viaduto do Chá um mês depois, em 15 de outubro e ficou conhecido como 15-O.

“O início da ocupação foi mais complicado”, conta a ativista Fernanda Aguiar, de 29 anos, participante da comissão de boas-vindas. Os moradores de rua ajudaram na adaptação. O dia 15 de outubro foi um dos mais frios do ano. 

A programação do Ocupa Sampa conta com aulas públicas, ministradas por professores universitários, e também rodas de debates, nas quais os assuntos mais tratados têm sido a construção da usina de Belo Monte, a saída de Ricardo Teixeira da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CFB), a descriminalização do aborto e do consumo da maconha, transporte público gratuito, fim do uso de armas por policiais em movimentos sociais, machismo e homofobia. 

Na sexta-feira (11), os ativistas lançaram um movimento contra a corrupção, em uma passeata que seguiu do Anhangabaú até a avenida Paulista, na região central. Recentemente, também estiveram presentes na manifestação em defesa dos estudantes que foram retirados pela polícia do prédio da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) e nas desocupações populares de prédios do centro da cidade ordenadas pela Prefeitura. 

Segundo representantes do movimento, por dia circulam em média 400 pessoas no acampamento,  para participar das aulas públicas ou para fazer algum tipo de doação. 

O digitalizador de arquivos Pedro Brandão, de 26 anos, participante do movimento, afirma que chama a atenção ver as pessoas ganhando formação política. “O acampamento propicia coisas incríveis, como troca de experiências e de opiniões, além das assembleias. É importante a conversa de canto, onde as pessoas trocam indicações de livros e ideias sobre os mais variados assuntos.”

Assim como Robson Bassan, de 33 anos, educador, muitos outros “indignados” estão pela causa. A pluralidade que poderia ser encarada como uma barreira, já que o movimento conta com os mais diversos grupos ideológicos, como hippies, punks, moradores de ruas e também o grupo Anonymous, também surpreende pelos frutos das assembleias. 

O grupo Anonymous ressalta que o movimento serve para uma profunda troca de conhecimento. “Fiquei surpreso ao começar a me interessar pela causa de Belo Monte. Antes ouvia uma notícia aqui, outra lá, hoje, ao falar sobre isso numa roda de debates, percebi o quanto é importante discutirmos sobre a construção da usina, o quanto isso pode prejudicar o nosso país futuramente”, disse Robson.

Excluídos

Juntos aos “indignados” estão presentes moradores e as crianças de rua, que enxergaram no Ocupa Sampa uma forma de se agregar e de se sentir acolhidos. Alguns moradores de rua participam de forma orgânica na manutenção da movimento.

Para o padre Julio Lancellotti, frequentador assíduo do movimento desde os primeiros dias, a possibilidade de uma convivência nova entre os jovens e os excluídos deve ser encarada de forma positiva. “Aqui o morador de rua está se sentido acolhido, notado, e para o jovem pode ser saudável essa convivência, uma experiência nova. Apoio os jovens que buscam aqui um mundo mais humano”, disse o padre.

Apontada pelos integrantes do movimento como ponto negativo da ocupação, a quantidade de crianças de rua no entorno do acampamento usando drogas, como colas e solventes, é algo com o que os ocupantes aprenderam a conviver. Segundo Pedro Brandão, educadores sociais de abrigos contaram para os ativistas que muitas crianças estão vendo uma oportunidade na ocupação. “Assim fogem dos abrigos, já que não se sentem acolhidas lá.”

Pedro enfatizou que o Ocupa Sampa não tem intenção de “expulsar” as crianças ou recorrer a assistentes sociais, por ser contra medidas de detenções.

Wall Street

 

Horas após serem expulsos nesta terça-feira pela polícia de Nova York da praça onde estavam acampados havia dois meses, manifestantes do movimento Ocupem Wall Street convocaram novos protestos e uma assembleia geral a ser realizada em outra parte de Manhattan. Cerca de 200 pessoas foram presas.

O movimento, que virou símbolo da indignação nos países ricos contra o establishment econômico e que tem adeptos em mais de 80 países, prometeu não arrefecer a luta após ações policiais que desfizeram acampamentos em Nova York e Oakland (Califórnia).

Líderes do movimento, também conhecido como “EUA 99%” – em referência aos 99% da população que supostamente vivem sob o jugo do interesse econômico do 1% mais rico da pirâmide social -, dizem que as batidas podem expulsar fisicamente os manifestantes dos acampamentos, mas não podem eliminar “uma ideia cuja hora chegou”.

“Ocupem Wall Street se tornou um símbolo nacional e mesmo internacional. Um crescente movimento popular alterou significativamente a narrativa nacional sobre nossa economia, nossa democracia e nosso futuro”, destacam os porta-vozes do movimento.

Londres

 

Autoridades também retomaram nesta terça-feira a ação legal para expulsar os manifestantes do movimento contra o capitalismo que estão acampados em frente à catedral Saint Paul, em Londres. “Nós suspendemos a ação legal por duas semanas para dialogar com os acampados, mas não tivemos progresso”, disse Stuart Fraser, chefe de polícia de Londres.

Com informações da Agência Brasil e da Reuters

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