CNBB diz que Estado não pode “assistir passivamente” a morte de indígenas

São Paulo – A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu nesta quarta-feira (30) nota lamentando o assassinato do cacique Kaiowá-Guarani Nísio Gomes e o sequestro de dois adolescentes […]

São Paulo – A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu nesta quarta-feira (30) nota lamentando o assassinato do cacique Kaiowá-Guarani Nísio Gomes e o sequestro de dois adolescentes e uma criança na mesma comunidade, no Mato Grosso do Sul, há duas semanas. Ele vinha sendo alvo de ameaças atribuídas a fazendeiros da região, próxima à fronteira com o Paraguai.

“O sangue desta reconhecida liderança, vítima de uma morte anunciada, clama por justiça e pelo fim da violência que há anos atinge e vitimiza este povo. A ninguém, muito menos ao Estado, é permitido assistir passivamente a barbáries como essa, que chocou o país e provocou reações também de comunidades internacionais”, diz o comunicado do Conselho Episcopal Pastoral.

A nota faz também cobranças: “Para além de declarações oficiais de solidariedade, o momento e as circunstâncias exigem ações concretas, do contrário, pode-se estar contribuindo para a morte de um povo por omissão ou negligência”.

Na manhã do último dia 18, 40 homens armados invadiram o acampamento Tekoha Guaviry, no município de Amambai (MS), perto da fronteira com o Paraguai. Nísio foi morto e o corpo levado em caminhonetes. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os indígenas ocupam parte da área original da comunidade, hoje invadida por quatro fazendas. 

Para a CNBB, é fundamental que o governo federal cumpra os direitos manifestados pela Constituição, que asseguram a demarcação e proteção de terras indígenas. “É imprescindível tomar com urgência todas as medidas para impedir que essa absurda violência continue a ceifar vidas. Mais grave ainda é permitir que mandantes e executores de crimes contra indígenas sejam, sempre de novo, beneficiados pelo escândalo da impunidade”, aponta a conferência, que cobra a avaliação do caso pela Justiça Federal.

Dados do Cimi indicam que 34 indígenas foram assassinados em 2010 no Mato Grosso do Sul. Ao longo de oito anos, foram 250 vítimas, além de 190 tentativas de homicídio. Nesta semana, a comitiva enviada pela Presidência da República ao acampamento Kaiowá foi alvo de intimidação de fazendeiros.