A internet é o caminho para a plena democratização da informação, avaliam analistas

Encontro Internacional de Blogueiros reafirma expectativas transformadoras das chamadas novas mídias, mas alerta que é longo o caminho até a consolidação de uma nova sociedade

São Paulo – Representantes de 16 estados brasileiros e de 32 países participaram do 1º Encontro Internacional dos Blogueiros, em Foz do Iguaçu (PR). O objetivo do evento – entre a quinta e o sábado (27 e 29) – foi debater de forma ampla o papel das novas mídias na construção de uma nova sociedade, de democracia plena e de livre acesso à informação.

Entre os participantes do primeiro dia de atividades, Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks, aproveitou para denunciar o bloqueio financeiro sofrido pelo site – sobre o qual, a grande mídia promove um absoluto silêncio. Kristinn afirmou, porém, que as dificuldades econômicas serão superadas “Vamos continuar expondo os erros (de governantes) e aumentando a transparência (de governos) neste mundo. Sem transparência, não há democracia.”

O ciberativista comentou também as dificuldades surgidas a partir da tentativa de firmar parcerias com a mídia tradicional, usada como estratégia para ampliar a visibilidade dos documentos a que o WikiLeaks obteve acesso. Para o WikiLeaks, foi lamentável, mas ao mesmo tempo importante, ter percebido que a grande mídia está mais interessada em futilidades e celebridades que em notícias consideradas mais sérias.”Foi um processo de aprendizagem muito grande para nós”, avaliou.

O jornalista do Le Monde Diplomatique Ignácio Ramonet frisou que, com as novas mídias, a forma de se fazer jornalismo mudou, o que pode não ter sido ainda assimilado corretamente pelos grandes grupos econômicos do setor das comunicações.

“A explosão das novas mídias é o que de mais importante e desestabilizador se produziu até agora. Os grandes meios estão em crise no mundo todo Até a CNN corre o risco de desaparecer em futuro próximo. O fato é que a mídia tradicional perdeu o monopólio da informação”, afirmou, ao abrir sua palestra.

Para Ramonet, apesar da crise de identidade por que passam os jornalistas tradicionais, ao mesmo tempo em que os estados autoritários não controlam mais a informação como antes, é preciso fortalecer a independência dos novos webatores, para garantir a plena democratização da comunicação ainda mais adiante. “Temos que ter claro que estamos apenas no início de um processo e que atravessamos um período transitório. Há cinco anos não tínhamos nem Facebook, nem Twitter. Mas daqui a cinco anos, embora possamos afirmar que os blogueiros e twitteiros terão um papel ainda mais importante, não é possível prever quais serão as ações dos meios tradicionais para recuperar o antigo poder.”

Sem intolerância

Em sua participação, o jornalista Luis Nassif expôs o perfil conservador que caracteriza a grande mídia desde sempre. “A mídia sempre foi fator de enorme resistência às mudanças”, disse.

Nassif traçou uma ligação entre a concentração de renda ao longo da história brasileira e o controle dos grupos de comunicação do país e lembrou ainda o pacto feito em 2005 pelos grandes jornais visando a queda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sobre a forma como setores conservadores usaram a internet durante as eleições presidenciais do ano passado, ele denunciou que, com quatro anos de antecedência, blogueiros e twitteiros a serviço de José Serra e do PSDB já disseminavam os boatos mais rasteiros na internet. “Mas em vez de assumir a a mediação da disputa, a mídia institucionalizada mergulhou de cabeça na onda de ataques ‘malucos e sujos´” afirmou.

Por fim, Nassif disse esperar que, ao crescer e se disseminar pelo planeta, a blogosfera evite a repetição do que considera o mais grave erro dos grandes grupos de comunicação. “A mídia se especializou em assassinar reputações e em espalhar a intolerância. A blogosfera não pode repeti-la.”

Com agências

Leia também

Últimas notícias