Secretaria de Mulheres acusa sexismo em propaganda de lingerie

Modelo Gisele Bündchen é apresentada vestindo apenas roupas íntimas para dar notícias 'desagradáveis' ao marido. Para empresa, campanha usa apenas bom humor

Ao mostrar a modelo vestida, a campanha sugere que se trata da forma errada de dizer que bateu o carro ou que a mãe irá morar com o casal (Foto: Reprodução)

São Paulo – A Secretaria de Políticas para as Mulheres recorreu ao Conselho de Autorregulação Publicitária (Conar) contra uma campanha de publicidade de TV da marca de lingerie Hope. Para o órgão do governo federal, os anúncios associam o “charme” da mulher à “exposição do corpo e insinuações” com o objetivo de “amenizar possíveis reações de seus companheiros frente a incidentes do cotidiano”.

No ar desde 20 de setembro, a campanha “Hope ensina” traz a modelo Gisele Bündchen vestindo apenas roubas íntimas para contar ao marido que bateu o carro, extrapolou o limite do cartão de crédito ou que a mãe irá morar na casa do casal. A estratégia permitiria deixar o homem “derretido”.

“A propaganda promove o reforço do esteriótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grande avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas”, afirma a nota da secretaria.

Para o órgão, a campanha configura-se como discriminatória contra a mulher, o que representa infração aos artigos 1º e 5º da Constituição Federal. Apesar disso, nenhuma medida ação foi levada ao Judiciário. Além de recorrer ao Conar, a entidade encaminhou ofício à direção da empresa a partir de queixas registradas pela ouvidoria da secretaria.

A empresa reagiu, em nota apresentada nesta quarta-feira (28), negando haver caráter sexista na campanha. A empresa sustenta que a propaganda buscou sugerir, “de forma bem-humorada”, que a “sensualidade natural da mulher brasileira” pode ser uma “arma eficaz” para “dar uma má notícia”. O argumento é que, ao usar lingerie da marca, o “poder de convencimento será ainda maior”.

Ainda segundo a empresa, os exemplos são cotidianos na vida de um casal que são “fatos desagradáveis, seja o agente da ação homem ou mulher”. A escolha de uma modelo reconhecida internacionalmente foi uma opção para evitar que houvesse conotação de “subserviência ou dependência financeira da mulher” e para destacar que se trata de uma brincadeira.

“Seria absurdo se nós, que vivemos da preferência das mulheres, tomássemos qualquer atitude que desvalorizasse nosso público consumidor”, conclui a nota. O Conar não se manifestou a respeito.

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