Por falta de jovens, produtores rurais temem futuro da agricultura familiar

Ausência de políticas públicas eficientes, faz juventude do campo optar pela cidade, apesar de avanços conquistados por recentes programas federais

Adversidades da vida no campo podem levar jovens a buscar centros urbanos e comprometer pequena produção agrícola (Foto: ©Ana Rojas/Folhapress)

São Paulo – A crescente saída de jovens das zonas rurais do Brasil rumo às concentrações urbanas preocupa as famílias de pequenos agricultores, principalmente das regiões Sul e Sudeste, com a falta de perspectiva de passar adiante suas propriedades e a produção. No entanto, o IBGE registra uma recente diminuição dessa corrente migratória.

Centros urbanos ainda são atrativos para jovens que buscam alternativas econômicas e educativas diferentes daquelas encontradas no meio rural. Entretanto, para o pesquisador Valter Bianchini, ex-secretário de Agricultura do Paraná, que elaborou um estudo sobre projetos para o desenvolvimento da juventude rural, medidas como políticas de capacitação profissional, criação de linhas de crédito específicas e ampliação das atividades de lazer poderiam reverter as perspectivas e o quadro do êxodo rural dos jovens.

Em 2000, o Brasil contava com 6.134.639 de jovens no campo, o que representava 18% do total do número de pessoas residentes no meio rural. Porém, o último censo, o de 2010, registrou 5.493.845 de pessoas nas mesmas localidades e na mesma faixa etária, entre 15 e 24 anos, o equivalente a 16% da população total de jovens do país.

Nos últimos anos, o IBGE constatou diminuição do total de habitantes no meio rural, com taxa negativa de crescimento populacional detectada pelos últimos censos. No período de 1991 a 2000, a taxa foi negativa em 1,3% ao ano. Já no período 2000 a 2010 a taxa continuou negativa, mas com uma queda menor, de 0,65%. 

Para o pesquisador do IBGE Fernando Albuquerque, apesar da leve queda no ritmo de diminuição da população rural entre os censos, o jovem representa parte importante desta baixa, com participação elevada no movimento migratório do meio rural para o urbano. Para ele, a ampliação do agronegócio está diretamente ligada ao fenômeno.

“A partir dos anos 80 o país começou uma intensa mecanização da agricultura, novas formas de plantio e de colheita. A produção agrícola cada vez menos necessita de mão de obra e é justamente a falta de oportunidades para os jovens que os faz sair das áreas rurais e migrar para áreas urbanas”.

Com a elevação da oferta de emprego, principalmente no setor industrial e de serviços, além de encontrar condições mais acessíveis de estudos nas cidades, como escolas técnicas e faculdades, os centros urbanos tornam-se o rumo natural dos jovens nascidos no campo. Segundo Bianchini, o êxodo rural é preocupante e faz, inevitavelmente, aumentar a necessidade de se pensar políticas públicas para os pequenos municípios.

Para quem?

O presidente do sindicato rural de Bituruna, a 350 quilômetros de Curitiba, no Paraná, conta que uma das grandes preocupações dos agricultores da região, é a que envolve a sucessão familiar da propriedade e da produção. “O jovem urbano chega na sexta-feira, pendura o boné dele na fábrica e volta só na segunda. E no meio rural teria que estar permanentemente (a trabalho) porque, dependendo da atividade que ele desenvolve, é de segunda a segunda”, destaca o produtor.

O produtor de hortaliças orgânicas Antonio Gilberto, morador da zona rural de São Mateus do Sul, no Paraná, e pai de duas meninas e um menino, conta que a filha mais velha já decidiu trocar a roça pela cidade em busca de um emprego e de melhor educação. Antonio conta, com sentimento de alívio, que seu único filho homem já o ajuda na lida na roça. “O meu menino representa uma exceção, já que muitas das famílias que vivem aqui na comunidade não têm mais jovens para o trabalho na roça. Tem família com 8 ou 9 filhos e mais nenhum jovem na propriedade”, comenta o produtor rural.

Políticas sociais

Para Valter Bianchini, ações governamentais poderiam ajudar a reverter o cenário de saída desses jovens da zona rural. Ele considera que se houvesse mais incentivos à permanência do jovem no campo, como linhas de crédito para aquisição de terras e equipamentos, o futuro dessa mocidade poderia traçar outros caminhos que não levassem a tentar a sorte nos centros urbanos.

Outras medidas, opina, também fariam que a escolha pelo trabalho na terra e na produção agrícola de pequeno porte prevalecesse entre a juventude rural. “A educação é um grande anseio do jovem morador das zonas rurais. A possibilidade de ficar por um tempo em sua propriedade, outra parte na escola, as chamadas ‘escolas de alternância’, pode representar uma medida importante para suprir esse anseio”, destaca Bianchini.

Fernando Alburquerque, do IBGE, sustenta, porém, que recentes programas do governo federal já registram avanços no sentido de reter essa população no campo. “O que se espera, de maneira geral, é que os movimentos populacionais para as cidades caiam, porque os benefícios (das políticas públicas) criam barreiras para o êxodo e estímulos para a permanência. Eu acredito em estabilização para o próximo censo no que se refere à diminuição da população rural.”

O secretário da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Laudemir Miller, afirma que a maior demanda do trabalhadore rural é a busca por uma atividade que lhe proporcione renda. “O jovem não vai ficar no meio rural se não tiver renda. Eles querem ter o próprio negócio”, concluiu Miller. Entre os programas do governo voltados a esse público e a essa necessidade, ele cita o Programa Nacional de Agicultura Familiar (Pronaf), com valores de até 12 mil reais para serem pagos em dez anos.