Maria do Rosário descarta envolvidos com a repressão na Comissão da Verdade

Presença de outros militares depende da presidenta. Ministra afirma que governo quer avançar na luta por verdade. Para ela, votação está mesmo próxima

Maria do Rosário disse respeitar a crítica dos grupos de defesa de direitos humanos, mas foi assertiva: “Este não é um governo de encenação” (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

São Paulo – A ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, declarou, em entrevista ao Sul21, que acredita que o projeto que instaura a Comissão de Verdade será votado ainda nesta semana. Ela reconhece que a pauta carregada na Câmara Federal pode atrapalhar os planos, mas prega uma aliança que “reúna democratas” para levar a iniciativa adiante.

O projeto tramita com pedido de urgência urgentíssima assinado pelos líderes das bancadas e está na pauta de votação no plenário da Câmara nesta quarta-feira (21). Outros itens, como a regulamentação da emenda constitucional 29 – que trata de recursos para a saúde –, a escolha de ministro para o Tribunal de Contas da União (TCU), e medidas provisórias também estão na ordem do dia.

A Comissão de Verdade seria um grupo de sete membros, nomeados pela Presidência da República, que teria dois anos de prazo para investigar violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988 – datas de promulgações de constituições nacionais. Organizações de parentes de vítimas da ditadura militar criticam as concessões feitas pelo Palácio do Planalto para que o tema avançasse no Congresso, inclusive na ampliação do período de apurações (a ditadura durou de 1964 a 1985). O Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro chegou a dizer que o formato proposto atualmente seria uma “mise en scene” do governo, por não oferecer garantias de investigação de fato.

Maria do Rosário disse respeitar a crítica dos grupos de defesa de direitos humanos, mas foi assertiva: “Este não é um governo de encenação. Estamos aqui tentando fazer a nossa parte, orientados pela presidenta Dilma (Rousseff), que é insuspeita na defesa da democracia e dos Direitos Humanos. As pessoas podem dizer o que quiserem, mas não poderão jamais negar que este é um governo que quer avançar nesta luta. E a presidenta tem esta história”.

Sobre a composição da Comissão, caso aprovada, a ministra preferiu não antecipar nomes. Ela tampouco excluiu, a priori, a presença de militares entre os componentes, embora diga perceber “um espírito contrário a isso”. Ex-presos políticos podem ser indicados. “A única coisa que eu posso assegurar é que não haverão envolvidos com torturas”, sublinhou. A justificativa para a escolha decorre do fato de que o órgão vai justamente apurar violações de direitos humanos.

Ela defendeu ainda o formato adotado, apesar das concessões. “Eu posso assegurar que os instrumentos que temos com a Comissão da Verdade, como estão propostos, são bons para investigar o ocorrido no período”, afirmou. “Ainda vamos contar com o trabalho das Comissões de Mortos e Desaparecidos Políticos e da Comissão de Anistia.”

A ministra sustenta que o governo não indicou relator para o projeto, deixando a tarefa a líderes das bancadas na Câmara. Assim, ela não descarta que um deputado do PSDB seja incumbido de promover novas mudanças. A opção poderia ser uma forma de reduzir resistência remanescente do DEM ao texto. Todos os outros partidos deram sinais de que estão de acordo com o projeto.

Mas o governo indica não querer esperar mais nem promover novas alterações. “Talvez mudanças no projeto possam atrasar a votação da matéria”, disse. “O projeto já não é mais do governo e tampouco da oposição. É um projeto que reúne democratas”, sugeriu Maria do Rosário.

Com informações do Sul21

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