Marcha das Margaridas supera invisibilidade das mulheres do campo

Salto da mobilização, realizada a cada quatro anos com destino a Brasília, foi poder conquistado de dialogar e cobrar o poder público

Mulheres do campo, da floresta e das cidades participam da abertura da Marcha das Margaridas, na Câmara (Foto: Antonio Cruz/ABr)

Brasília – Na solenidade de abertura da Marcha das Margaridas, ativistas e ministros exaltaram o poder de diálogo conquistado pelo movimento de mulheres do campo e da floresta a partir da mobilização social. Desde 2000, elas rumam à capital federal para protestar e cobrar o poder público a cada quatro anos. Na quarta edição, iniciada nesta terça-feira (16), a conquista de espaço junto ao poder público foi motivo de comemoração, mas as demandas por avanços no combate à desigualdade de gênero ainda são amplas.

O primeiro dos dois dias de mobilização começou com a recepção às comitivas de todas as regiões do país. A estimativa das organizadoras é de que 50 mil mulheres estejam instaladas na Cidade das Margaridas, montada no Parque da Cidade, em Brasília. Há expectativa de que seja possível alcançar a meta de 100 mil até esta quarta-feira (17), quando ocorrem as manifestações propriamente.

Os alojamentos onde estão instaladas as mulheres do campo, da floresta e da cidade têm cobertura e piso de lona. Sobre a forração de plástico é que são posicionados os colchonetes durante a noite. As filas longas são regra durante as refeições, mas reina o espírito de solidariedade.

Nesta terça, além de receber as delegações, houve a prepração para a marcha, com oficinas de formação e duas mesas de debate sobre desenvolvimento sustentável, relacionados aos sete eixos que compõem a pauta entregue ao governo na semana passada. À tarde, uma solenidade marcou o lançamento da marcha.

Visíveis

Apesar do atraso de quase duas horas, o ato foi prestigiado por ministros de Estado e parlamentares, além de Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal. Carmem Foro, coordenadora geral da Marcha das Margaridas e secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), lembrou que muitas das mulheres deixaram suas casas há dois ou três dias, tomando barco e ônibus como meio de transporte, para chegar até Brasília.

Carmem Foro se definiu como uma “cabocla da Amazônia”, citando sua origem na área rural do Pará, que integra o bioma. “Muitas mulheres aqui presentes veem de uma realidade política bem difícil. Muitas aqui eram invisíveis e, desde a primeira marcha, em 2000, conseguimos quebrar essa invisibilidade política. A quarta marcha de amanhã (quarta-feira) tem muita importância para todas as mulheres, porque é a primeira vez em que marcharemos tendo uma mulher como presidenta da República.”

Uma das homenageadas foi a paraibana Elizabeth Teixeira, de 86 anos. Viúva do fundador das Ligas Camponesas João Pedro Teixeira, assassinado em 1962, ela criou sozinha 11 filhos no meio rural. A escolha foi uma forma de lembrar das mulheres ameaçadas ou assassinadas no campo. Segundo a Contag, em 10 anos, as mulheres ameaçadas de morte na região amazônica passaram de 7% para 20% dos nomes listados anualmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Iriny Lopes, ministra da Mulher, foi a única representante do governo a falar. Ela confirmou que, ao participar da marcha, nesta quarta-feira, a presidenta Dilma Rousseff anunciará medidas do Executivo federal para atender à pauta de reivindicações entregue na semana passada pelas lideranças da Contag.

“O Estado precisa fazer sua parte para que seja superada a desigualdade de gênero”, defendeu Iriny. “Mas já adianto aqui para vocês que, com certeza, a presidenta Dilma irá fazer diversos anúncios para que sejam cumpridas as pautas que vocês apresentaram a nós nos próximos quatro anos, ainda no governo da Dilma.”

O presidente da Contag, Alberto Ercílio Broch, relembrou a primeira marcha, em 2000, quando a mobilização teve como alvo o modelo neoliberal promovido pelo governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde então, o ato se incorporou à agenda das mulheres no país e, hoje, é considerada a maior mobilização de mulheres da América Latina. “As mulheres aqui presentes são sofridas, simples, humildes e ajudaram a viabilizar a marcha.” Apesar de a lista de reivindicações das ativistas ainda ser extensa, Broch reconheceu avanços em relação à política para os agricultores familiares e para comunidades extrativistas.

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