Homossexualidade de filhos evidencia preconceito nas famílias

São Paulo – Em um contexto em que se discute a criminalização da homofobia, dentro das próprias famílias ocorrem casos de violência motivada pela orientação sexual. Por falta de compreensão, […]

São Paulo – Em um contexto em que se discute a criminalização da homofobia, dentro das próprias famílias ocorrem casos de violência motivada pela orientação sexual. Por falta de compreensão, muitos pais e mães acreditam que se trata de uma doença ou de uma fase, adotando posturas drásticas, como tentar proibir o adolescente de conviver com seus amigos ou até lançar mão de agressões físicas.

Quando o assunto é despertado, as reações variam de acordo com a família. A psicológa especializada em crianças e jovens Yara Garguzi conta ter presenciado situações de desespero dos pais. Quando um de seus pacientes “que achava que era homossexual” decidiu contar para o pai, ela recebeu um telefonema desesperado. “O pai me dizia que o filho não poderia ser homossexual porque ninguém na casa dele era e que ninguém aceitaria isso”, comenta.

Yara afirma que teve de lidar com uma mãe que sabia da orientação sexual do filho, embora ele não tivesse comunicado aos pais. Nem por isso faltavam motivos de preocupação. “O desespero dela era de não deixar que o pai descobrisse”, relata.

A exemplo do que ocorre no ambiente escolar, a forma de se lidar com a homossexualidade é uma questão para as famílias. Não por acaso, parte da trama da novela das 21h da TV Globo, Insensato Coração, gira em torno de um jovem que assume sua orientação para a mãe. Entre a revelação e as reações, dois capítulos devem ir ao ar, nesta terça (12) e quarta-feiras (13).

A tensão criada pelos autores, Gilberto Braga e Ricardo Linhares, coloca uma mãe que, embora aceite que o filho tenha um amigo gay – e até seja funcionário de um bar cuja decoração remete ao arco-íris e a outros símbolos da comunidade LGBT – muda de postura ao ser comunicada sobre o episódio familiar.

Esse padrão de conduta é relativamente comum e faltam referências para saber sobre como lidar com a informação. A professora universitária aposentada Edith Modesto criou o Grupo de Pais de Homossexuais (GPH) em 1999. O objetivo dela, também autora de livros relacionados a diversidade sexual, era auxiliar famílias que sentem necessidade de conversar e trocar experiências a respeito da sexualidade dos filhos.

Edith revela que a dificuldade do jovem em assumir a homossexualidade envolve, em muitos casos, o medo de reações violentas e de rompimento com o núcleo familiar. Em uma conversa com um jovem homossexual de 14 anos, ela conta ter sugerido que seria bom para o convívio com os pais que ele contasse para a mãe sobre a sua sexualidade. “Ele, apavorado, me falou: ‘Vou falar primeiro para o meu melhor amigo, porque se eu perder, vou ficar muito triste, mas eu posso arrumar outro. Eu não posso perder o amor da minha mãe’.”