Dois meses após assassinatos no Pará, ameaçados seguem sem proteção

São Paulo – Completam-se dois meses neste domingo (24) do assassinato do casal de líderes extrativistas José Claudio Silva e Maria do Espírito Santo Silva, mortos a tiros em uma […]

São Paulo – Completam-se dois meses neste domingo (24) do assassinato do casal de líderes extrativistas José Claudio Silva e Maria do Espírito Santo Silva, mortos a tiros em uma estrada rural do município paraense de Nova Ipixuna, a 390 quilômetros da capital. Os acusados do homicídio foram identificados pela polícia apenas na última semana. Porém, a insegurança na zona rural do Pará ainda não foi amenizada, na avaliação de José Batista Afonso, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na região de Marabá, porque outros líderes ameaçados permanecem sem qualquer proteção do Estado.

A morte ocorreu na semana em que seria aprovado na Câmara o relatório do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) com mudanças no Código Florestal. Nas semanas seguintes, pelo menos outras quatro pessoas foram assassinadas na área rural da região Norte do país. Os episódios chamaram atenção para a insegurança no campo, provocada por conflitos envolvendo madeireiras e carvoarias, além do acesso à terra.

Em junho, após a onda de mortes ocasionadas por conflitos agrários, representantes dos ministérios da Justiça, do Desenvolvimento Agrário, do Meio Ambiente, da Secretaria-Geral, dos Direitos Humanos e da Segurança Institucional, além do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), listaram uma série de necessidades para acabar com a violência no campo.

Decidiu-se, na ocasião, que os nomes das pessoas que receberam algum tipo de ameaça seriam analisados individualmente e, caso fosse identificada situação real de risco, seria oferecida proteção policial imediata.

Batista Afonso afirma que as medidas prometidas pelo governo federal ainda não saíram do papel. Ele garante não ter acontecido qualquer mudança no estado do Pará. “Nenhuma proteção ou melhoria nas condições de vida dos trabalhadores rurais foi oferecida”, concluiu o advogado.

Líderes agrários denunciam que a atenção ao Código Florestal e a prioridade em conceder licenças ambientais para grandes obras fazem com a que situação no campo torne a vida do trabalhador ainda mais arriscada. A insegurança provocada pela tentativa de denunciar abusos e crimes deterioram as condições de vida do trabalhador rural na região Amazônica.

“Percebemos, e isso a cada dia mais, os latifundiários continuam agindo de forma brutal contra os trabalhadores”, ressalta Francisco de Assis, coordenador da Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetagri) do Pará. “Os mandantes e os apertadores de gatilho ainda estão na região agindo normalmente como se nada tivesse acontecido. E com isso, a conivência das autoridades tem contribuído para que nada se avance. E o Estado lá, calado”, indigna-se.

De dois meses para cá, outras cinco pessoas foram mortas na zona rural do país; três no Pará, uma em Rondônia e uma em Pernambuco.

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