Líderes extrativistas mortos no Pará já haviam sofrido atentado, diz sobrinha

'Quando teremos a presença do Estado para nossa proteção?', pergunta líder de ONG

São Paulo –José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, mortos a tiros em uma emboscada na terça-feira (24), já haviam sofrido atentado há aproximadamente um mês e meio, segundo Clara Santos, sobrinha do casal de seringueiros. “A família estava superpreocupada. Meu tio tinha pedido proteção à polícia e ao estado. Reclamava muito da falta de apoio”, afirmou. Segundo ela, tiros já haviam sido disparados no quintal da casa de José Cláudio e Maria, que eram líderes extrativistas no assentamento Praialta-Piranheira, na comunidade de Maçaranduba 2, a 45 quilômetros do município de Nova Ipixuna, região sudeste do Pará.

Para ela, o casal deve ser lembrado pelo trabalho de conscientização sobre a exploração sustentável da floresta e não apenas pelas denúncias contra extração ilegal de madeira. “E de tudo que ele (José Cláudio) aprendia e ensinava a partir dos cursos de capacitação que fazia e proporcionava. Ele sempre acreditou ser possível lucrar sem prejudicar a floresta. Viajava muito para aprender alternativas simples que podiam ajudar as famílias a lucrarem com a exploração sustentável da floresta e depois ensinava o que aprendia”, disse Clara, bastante emocionada durante o velório.

O fato de José Cláudio ter uma orelha cortada pelos assassinos fez crescer a suspeita de que o crime foi cometido por encomenda. Trata-se de uma prática comum em casos de assassinatos cometidos por pistoleiros.

A ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes, classificou de “bárbaro” o assassinato e uma “afronta aos direitos humanos”, já que houve uma “execução motivada por uma luta legítima de defesa ambiental”. Ela reiterou que a presidenta Dilma Rousseff determinou que a Polícia Federal investigue o caso. A ministra solicitou que o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) também acompanhe as investigações. “O governo brasileiro não aceita que esse tipo de práticas ocorra em nosso país e não poupará esforços para identificação e responsabilização dos criminosos.”

O presidente do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), Rubens Gomes, disse que a morte do casal representa mais um alerta quanto à desproteção aos movimentos sociais. “Será, meu Deus, que cabe a nós, pobres mortais, que lutamos dia e noite para defender um bem público que são nossas florestas, entregar nossas vidas e de nossas famílias pelo simples fato de tentarmos manter a nossa chance de qualidade de vida de todos e todas? Quando teremos a presença do Estado para nossa proteção? Quantos mais Josés, Chicos, Demas, Dorothys, Wilsons e centenas de outros e outras mais serão necessários?”

Com informações da Agência Brasil, do Grupo de Trabalho Amazônico, do Conselho Nacional das Populações Extrativistas e da Secretaria de Direitos Humanos

Leia também

Últimas notícias