Exército anuncia saída do Complexo do Alemão

A ocupação do Complexo do Alemão teve início há seis meses. Agora, a intenção do governo estadual é instalar UPPs na região (Foto: Marcello Casal Jr. Agência Brasil) Rio de […]

A ocupação do Complexo do Alemão teve início há seis meses. Agora, a intenção do governo estadual é instalar UPPs na região (Foto: Marcello Casal Jr. Agência Brasil)

Rio de Janeiro – Um almoço que reuniu no último fim de semana comandantes militares e autoridades de segurança pública do Rio de Janeiro definiu que as tropas do Exército que ocupam o conjunto de favelas que formam o Complexo do Alemão e a Vila Cruzeiro começarão a ser gradativamente substituídas por policiais militares a partir de agosto. O Exército já ocupa a região há seis meses, desde a invasão da polícia que expulsou os traficantes armados das favelas em novembro do ano passado. Em agosto, quando os primeiros 500 policiais começarem a substituir os cerca de 1.700 oficiais e soldados que trabalham atualmente nos dois complexos, já serão nove meses de ocupação militar na antiga fortaleza da facção criminosa Comando Vermelho.

O encontro que definiu o cronograma da substituição do Exército pela Polícia Militar no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro aconteceu na sede do Comando Militar do Leste (CML), e contou com as presenças do secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, do comandante-geral da Polícia Militar no Rio, coronel Mário Sérgio Duarte, e da chefe da Polícia Civil, delegada Martha Rocha, além do general Adriano Pereira Júnior, que comanda o CML. Antes disso, as linhas gerais da troca de guarda no Alemão foram traçadas em conversas travadas entre o governador Sérgio Cabral e o ministro da Defesa, Nelson Jobim.

A partir da primeira leva de policiais em agosto, a substituição dos militares se dará no ritmo de 500 homens por mês. Depois que o Exército deixar completamente o complexo de favelas, o que está previsto para acontecer até o dia 1º de novembro, mais 400 homens do Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope) aumentarão o efetivo policial, que deverá ter um total de 1.900 homens. “A intenção do governo é, a partir de novembro, instalar dez UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) na região”, afirma o secretário Beltrame.

Os detalhes operacionais da substituição serão definidos ao longo de diversas reuniões entre a cúpula da segurança pública. A primeira delas aconteceu na quarta-feira (25) sob a coordenação de Martha Rocha e do general Carlos Sarmento, comandante da Força de Pacificação que atua no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro. Ficou definido que, já a partir de agosto, agentes da Polícia Civil e homens do Bope iniciarão uma operação pente-fino nas dois complexos de favelas. “Essa operação buscará identificar e encontrar drogas, armas, munições e traficantes que eventualmente ainda estejam escondidos”, disse a delegada.

O anúncio da substituição do Exército pela PM ocorre pouco depois da divulgação de um relatório elaborado pela Secretaria de Segurança Pública que revela que 77% das armas apreendidas durante a ocupação do Alemão e da Vila Cruzeiro em novembro são de  fabricação estrangeira, incluindo 20 peças de uso exclusivo das forças armadas da Argentina, do Paraguai, da Bolívia e da Venezuela. Na lista de armas apreendidas naquela ocasião há 121 fuzis automáticos, 80 pistolas, 23 submetralhadoras, 21 espingardas, 18 revólveres e 16 metralhadoras, além de peças artesanais, armamentos falsos e até uma pistola de paint ball.

Dados animadores

Enquanto as informações sobre a saída do Exército reacendem entre os cariocas a discussão sobre as UPPs, começam a ser divulgados alguns dados animadores sobre os efeitos da política de segurança no Rio de Janeiro. Acostumados a receber as vítimas do tráfico e da violência urbana na cidade, os hospitais públicos Salgado Filho (Méier), Miguel Couto (Leblon), Souza Aguiar (Centro) e Lourenço Jorge (Barra da Tijuca) registraram desde a instalação das primeiras UPPs nas suas proximidades uma queda de 46,6% no número de atendimentos a pessoas feridas por arma de fogo. O número de óbitos de baleados nesses grandes hospitais foi de 702 em 2009 e de 408 em 2010, o que representa uma diminuição de 41,08%.

Além disso, o Instituto de Segurança Pública (ISP) anunciou que o número de homicídios em março de 2011 foi o menor já registrado no Rio de Janeiro durante esse mês nos últimos 20 anos. Se comparado a março do ano passado, a redução este ano foi de 24% (374 mortes contra 492 em 2010). Também apresentaram redução em relação ao ano passado os índices de roubo de veículos (24%), assaltos a pedestres (15%) e seqüestros-relâmpago (40%).

Outro dado emblemático da redução do número de tiroteios contra traficantes nas maiores favelas é que até março nenhum policial civil ou militar foi morto em serviço no Rio de Janeiro. Desde 1998, quando o ISP começou a registrar e divulgar esses dados, foi a primeira vez que nenhum policial foi assassinado no estado no primeiro trimestre do ano. Em 2010, sete policiais foram mortos no Rio até março, número que subiu para 20 ao longo do ano: “Esses dados demonstram que os policiais estão trabalhando com mais critério. Essa é apenas a primeira vitória de muitas que teremos”, afirma José Mariano Beltrame.

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