Ativistas dos direitos humanos querem mais treinamento para a polícia

Mães de Maio lançam livro e fazem passeata em homenagem às vítimas de 2006

São Paulo – Ativistas dos direitos humanos defendem mais treinamento para a polícia e normas mais claras de procedimento para coibir ações violentas como as que culminaram na morte de 493 civis em 2006. Entre os dias 12 e 20 de maio daquele ano, pelo menos 122 pessoas foram mortas com indícios de execução sumária praticada por agentes de segurança pública.

Durante evento realizado na capital paulista nesta quinta-feira (12), as Mães de Maio, como é conhecido o grupo de mulheres que perderam seus filhos no episódio, lançaram o livro Do Luto à Luta, com depoimentos de parentes das vítimas e textos de artistas da periferia.

Várias mães contaram a história de seus filhos, relembrando os crimes ocorridos há 5 anos e o cotidiano truculento da polícia em suas comunidades. No final da tarde os ativistas realizaram uma passeata pelo centro de São Paulo com as fotos das vítimas. As mães falavam palavras de ordem como “polícia assassina” e “queremos justiça”.

O ouvidor da Polícia Civil, Luiz Gonzaga Dantas, considera que o governo do estado precisa cumprir as normas legais de preservação da cena do crime e os policiais devem ser proibidos de socorrer pessoas feridas. O papel dos policiais seria de isolar a área e chamar o resgate, que tem especialização médica para cuidar das vítimas.

“Isolando a área os peritos podem recolher as cápsulas deflagradas e outras evidências do crime. Assim você terá uma investigação mais objetiva que poderá apontar o método usado e o culpado”, conclui Dantas.

Para a diretora do Grupo Tortura Nunca Mais e jornalista Rose Nogueira, os policiais precisam ter um treinamento melhor e as autoridades de segurança pública precisam rediscutir os métodos atuais para assim evitar a perda da vida de tantos jovens, principalmente das periferias das grandes cidades.  “Eu acho que muitos batalhões treinam seus policiais como se fosse para uma guerra. Aqui é um país de paz,  a polícia tem que proteger o cidadão, seja quem for. No Brasil não temos pena de morte, as pessoas merecem julgamento”, defende.

Pai de uma das vítimas, João Inocência de Freitas, afirma que a luta também é para mostrar a sociedade que não se pode condenar uma pessoa antes do julgamento exatamente como a mídia e as pessoas fizeram na época. “Porque não podemos chamar um político de corrupto antes de ele ser condenado mas se pode executar um jovem cidadão que está na rua, com a desculpa de ele ser bandido, antes de ser julgado?, indaga Inocêncio.

Seu filho – Mateus Andrade de Freitas, então com 21 anos – morreu em 17 de maio de 2006, em Santos. A mãe, Vera Lucia, conta que Mateus e seu amigo Ricardo Porto Noronha foram dispensados da aula e  foram a uma pizzaria perto de casa. No caminho, foram mortos por homens encapuzados.

Até hoje, ainda não houve nenhuma condenação relacionada aos crimes de maio de 2006. Dezenove pessoas permanecem  desaparecidas. Segundo Luiz Gonzaga, cerca de 70% a 80% dos casos relatados à ouvidoria da polícia estão arquivados. Dos nove que estão em andamento, há quatro policiais militares e um civil denunciados e aguardando recurso.

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