Após absolvição, Gegê volta a participar de ocupação por moradia popular

Dia Nacional de Mobilização pelo Direito à Moradia terá manifestações e ocupações em 12 estados

No frio da madrugada, ativistas do movimento ocuparam prédio no centro de SP (Foto: ©ZanoneFraissat/Folhapress)

São Paulo – Pouco mais de um mês após ser absolvido da acusação de homicídio – em um processo que levou nove anos –, um dos líderes do movimento de moradia popular, Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, voltou às atividades na madrugada desta quinta-feira (19), na ocupação de um prédio abandonado do Exército, em São Paulo. Sobre o temor de uma repressão policial, o líder declarou: “Essa palavra medo não existe comigo”.

A ocupação do prédio do Exército, no bairro da Liberdade, na região central, foi uma das nove previstas para os dias 18 e 19, pela União Nacional da Moradia Popular. As 24 horas de manifestações e ocupações em São Paulo e outros 11 estados foram intituladas de Dia Nacional de Mobilização pelo Direito à Moradia, e trazem um caráter reivindicatório contra o que eles consideram ser o descaso do poder público em relação a milhões de pessoas que moram em condições precárias.

“As reivindicações só são ouvidas pelo poder público quando o povo vai às ruas lutar pelos seus direitos. Não podemos ficar dentro de salas e gabinetes, isso convém aos governos e aos empresários e nós não queremos essa política”, diz Gegê. Sobre as ações do poder público voltadas para a moradia, ele critica: “A questão da moradia no Brasil sempre foi tratada de forma bem distante, mesmo com oito anos de governo Lula, ainda temos dificuldades de implementar uma política de moradia digna”.

O membro da União Nacional de Moradia Popular Donizete Fernandes destaca a importância da expansão do programa Minha Casa, Minha Vida para a população de baixa renda. “É um bom programa, mas não atinge como deveria a população que ganha de um a três salários mínimos. É nesse ponto que queremos negociar com o governo federal.”

Atualmente o déficit habitacional do Brasil é de aproximadamente 7 milhões de moradias, segundo os ativistas. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad) 2008, são 5,5 milhões. Para Donizete, o programa de subsídio do governo federal irá reduzir esse déficit  pela metade, em quatro anos.

A ação

À 0h15, cerca de 100 pessoas chegaram ao prédio abandonado do Exército, na rua São Joaquim. Gegê e diversas outras lideranças do Movimento de Moradia cortaram as correntes e arrombaram as portas da antiga base militar. Poucos minutos depois, dois ônibus lotados de membros do movimento chegaram ao local, rapidamente eles desceram do veículo e entraram no prédio. Entusiasmados com a ocupação, grupos de pessoas entravam pelas salas e ocupavam todas as dependências.

Logo depois, viaturas da Polícia Militar chegaram ao local e iniciaram, do lado de fora, um bate-boca com os ocupantes. Por diversas vezes, eles tentaram forçar as portas e entrar no prédio. Durante as calorosas discussões, os policiais caracterizaram a ação como invasão e crime militar, exigindo a saída das pessoas do local – ordem ignorada pelos manifestantes.

Com o passar do tempo, os ânimos se acalmaram e a polícia recuou, deixando apenas uma viatura no local. Uma hora mais tarde, o deputado estadual Luiz Claudio Marcolino (PT) chegou ao local e disse que “o coronel da Polícia Militar está dialogando com os coordenadores do movimento para chegarem a uma solução pacífica sobre as ocupações”. Ele acreditava que, pela manhã, haveria uma decisão.

Uma das participantes da ocupação, Adriana da Cruz Santos, lamentou a necessidade da prática. “O movimento de moradia não tem outra opção a não ser fazer pressão. O poder público tem dinheiro, tem lugar e simplesmente ignora o povo sem moradia. Por isso somos obrigados a ocupar, na esperança de uma possível negociação.”

No momento em que as discussões terminaram e o clima entre a polícia e manifestantes esfriou, Gegê declarou não se sentir ainda libertado. “Após quase nove anos pagando por um crime que não cometi, hoje eu estou livre, porém não estou liberto. Eu não posso me sentir liberto enquanto um prédio como esse estiver abandonado, sem nenhum morador”, finalizou.

Segundo Donizete Fernandes, o governo federal marcou uma reunião entre a União Nacional de Moradia Popular e a Caixa Econômica Federal para o fim do mês, em Brasília.

Leia também

Últimas notícias