Presidente de conselho de direitos humanos aponta tentativa de esvaziamento do órgão em São Paulo

Conselheiros estão inconformados com remoção do órgão de defesa dos direitos humanos de Sala da Cidadania

São Paulo – O presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana em São Paulo (Condepe/SP), Ivan Akselrud de Seixas, distribuiu nota contra a “pretensa remoção do conselho” da “Sala da Cidadania”, no Pátio do Colégio. Seixas vê uma tentativa de esvaziamento do órgão com a tentativa de subordiná-lo à Secretaria de Justiça. Ele revela ainda que causou estranheza a notícia de transferência do Condepe, sem consulta aos membros do órgão. A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania nega.

“(O Condepe) tem de ficar dentro da Secretaria de Justiça. Não há subordinação, nem responde à hierarquia, mas o local é tradicional para as pessoas fazerem denúncias”, afirmou Seixas, em entrevista à Rede Brasil Atual. O órgão funciona no local desde sua criação, em 1991, no centro de São Paulo.

“Causou profunda estranheza a comunicação de seu chefe de gabinete em que afirma não poder publicar nosso edital de convocação das assembleias ordinárias do Condepe”, condena o ativista, em carta à titular da secretaria, Eloisa de Sousa Arruda. O documento foi divulgado na quinta-feira (3).

Segundo Seixas, o Condepe não é um conselho de governo e não está subordinado a nenhuma secretaria. Criado pela Lei estadual 7.576/91, complementada pela 8.032/92, é considerado um “órgão de Estado”, desvinculado do governo. A própria Sala de Cidadania, espaço de funcionamento do Condepe, está consagrada em lei, destaca o representante.

No documento à secretária de Justiça, os conselheiros dizem estar inconformados com o tratamento que o órgão de defesa dos direitos humanos vem recebendo.  “Desde sua criação, o Condepe nunca foi tratado com tamanha desconsideração e desrespeito”, avalia Seixas. “As entidades que compõem o Condepe não aceitarão passivamente essa atitude grosseira e agressiva a essa conquista da cidadania durante o processo de redemocratização.”

O representante do conselho vê nas ações da Secretaria de Justiça intenção de esvaziar o conselho. “Não tem menor sentido esconder o Condepe, órgão que defende o direito à cidadania”, cita o ativista. “O Condepe tem poderes de ir a qualquer órgão do governo do estado, receber denúncias e encaminhar para buscas, perícias e inquéritos. Tem poder de acompanhar investigações e principalmente requisitar documentos, os quais devem ser respondidos no prazo máximo de 30 dias, obrigatoriamente”, descreve.

Mensalmente, o conselho convoca assembleias ordinárias, das quais participam entidades de direitos humanos, representantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e de membros de universidades. As denúncias são encaminhadas ao Ministério Público.

Apesar de atuar em importantes episódios de violação de direitos humanos, o órgão sobrevive com orçamento de R$ 12 mil por ano. Entre as questões defendidas pelo Condepe recentemente, Seixas lista casos como o espancamento sofrido por um rapaz negro no Carrefour e a morte de motoboys vítimas de violência de policiais militares. “No caso do cidadão negro espancado pelo Carrefour, (o Condepe) conseguiu que o processo fosse de sequestro e tortura”, destaca.

Outro lado

A secretária da Justiça e da Defesa da Cidadania, Eloisa de Sousa Arruda, nega que esteja agindo de forma arbitrária. Por telefone, a assessoria de imprensa do órgão explicou que a transferência do Condepe para um novo local faz parte de um esforço para reunir em um único prédio os vários conselhos ligados à pasta.

“Ao contrário do alegado nas matérias, o assunto foi amplamente debatido e faz parte da reorganização administrativa da Secretaria da Justiça. Não estamos “despejando” o CONDEPE ou o CONED (Conselho Estadual de Drogas), estamos apenas destinando espaço para eles no mesmo prédio em que estão todos os demais Conselhos vinculados a esta Secretaria”, aponta Eloisa em nota.

“A mudança é necessária não só para alocar todos os Conselhos em um só lugar (facilitando o apoio administrativo a ser dado), para evitar qualquer alegação de discriminação ou tratamento diferenciado, mas também porque, com a criação da Coordenadoria Estadual contra a Droga, precisamos de espaço físico no prédio do Páteo do Colégio e, por fim,  manteremos a coerência de ter todas as coordenadorias em um só local, para agilizar  os trabalhos (assim como os Conselhos no outro prédio)”, complementa.