‘Tapas’ eventuais nos filhos são considerados como necessários por 75% das mulheres, diz pesquisa

São Paulo – A violência sofrida pelas mulheres também surte efeitos na criação dos filhos, segundo o estudo “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”. Ao investigar o […]

São Paulo – A violência sofrida pelas mulheres também surte efeitos na criação dos filhos, segundo o estudo “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”. Ao investigar o uso da violência como instrumento supostamente pedagógico na educação dos filhos, o levantamento  detectou que é maior o número de mulheres favoráveis à ideia de que “para educar bem os filhos, às vezes, é preciso dar uns tapas neles”. Cerca de 75% das mulheres se manifestaram nesse sentido, ante 59% dos homens.

O estudo  foi realizado pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc). Os questionários foram aplicados em 2010. Foram ouvidos 2.365 mulheres e 1.181 homens, com mais de 15 anos de idade, de 25 estados, de áreas urbanas e rurais.

A explicação do cientista político e professor na Universidade de São Paulo (USP), Gustavo Venturi, que coordenou a pesquisa, é de que pessoas que foram criadas apanhando dos pais teriam tendência maior de repetir a violência batendo nos filhos. “Quem nunca apanhou quando criança é quem menos afirma bater nos filhos hoje e também é a taxa maior daqueles que nunca bateram no filho, sequer com tapas”, diz.

“Quem levava surras de vez em quando ou com frequência estão entre os contingentes, sejam homens ou mulheres, que se mostram mais predispostos hoje a bater nos filhos, também de forma mais violenta e com mais frequência”, analisa Venturi.

Crenças desse tipo acabam criando o que o pesquisador chama de ‘cultura da violência’. “Ela é legitimada por valores de quem acha que isso é preciso para educar os filhos ou, no caso de alguns homens, que para educar as mulheres de um suposto desvio de comportamento é legítimo usar violência física”, declara o pesquisador.

A boa notícia é que essa mentalidade está em declínio entre os mais jovens. “Há uma tendência de queda dos castigos físicos no segmento jovem”, aponta Venturi.

Outro problema, segundo o pesquisador, é que o cuidado dos filhos continua recaindo sobre as mulheres. “A contrapartida esperada  (por parte do homem), que seria a divisão do trabalho doméstico, não foi feita.”

Leia também

Últimas notícias