Filho de desaparecido político do Araguaia comemora sentença na OEA: ‘Não estamos sozinhos’

São Paulo – Para João Carlos de Almeida Grabois, a decisão de terça-feira (14) da Corte Interamericana de Direitos Humanos é uma vitória para os familiares de desaparecidos políticos da […]

São Paulo – Para João Carlos de Almeida Grabois, a decisão de terça-feira (14) da Corte Interamericana de Direitos Humanos é uma vitória para os familiares de desaparecidos políticos da Ditadura Militar. Ele sustenta, em entrevista coletiva realizada na manhã desta quinta-feira (15) na capital paulista, que a decisão mostra que a luta dos familiares não é revanchismo, como são acusados, e mostra que eles não estão sozinhos.

Joca, como é conhecido aos 37 anos o filho do desaparecido político André Grabois, emocionou-se ao falar da decisão. “A sentença mostra que não estamos sozinhos, porque parecia que estávamos sós. Parecia que o que aconteceu conosco não tinha acontecido com todos vocês também”, criticou. O fato de que magistrados de outros países do continente posicionaram-se a favor da demanda dos familiares é bastante significativo para o país.

“A sociedade brasileira quer passar essa página negra, mas os crimes cometidos (pela Ditadura) foram contra a sociedade brasileira”, diz. “Queremos Justiça e Justiça não é revanche”, completa.

Para ele, a discussão não trata apenas do paradeiro dos corpos dos desaparecidos políticos, mas de como funciona a Justiça e a democracia no Brasil. Nesse sentido, Joca fez uma crítica dura ao Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu neste ano sobre a validade da Lei de Anistia para violações de direitos humanos praticadas por agentes do regime autoritário. “A Corte (Interamericana) fala que a decisão do STF não foi baseada na Justiça”, dispara.

Medo de militar

Saulo Roberto Garlippe, irmão de Luíza Augusta Garlippe, afirma que os governos civis que se sucederam depois da Ditadura demonstraram medo em relação aos militares. “Parece que a Ditadura continua na questão militar”, sugere. A avaliação é de que figuras como o ministro da Defesa, Nelson Jobim, dentro do governo, e José Sarney (PMDB-AP), na base aliada no Congresso Nacional, dificultam o processo.

Outra familiar presente na entrevista coletiva, Helenilda Nazaré, irmã da desaparecida política Helenira Resende de Souza Nazaré, analisa que os governos civis submeteram os familiares a uma forma de tortura continuada ao privá-los de informações. “Se alguém avalia a Ditadura brasileira como não tendo sido tão pesada (quanto em outros países sul-americanos), se foi ‘branda’ é porque não consideram os efeitos psicológicos sobre a família. Havia medo de buscar informações. Havia e ainda há”, lamenta.

Mico para Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de críticas por parte dos ativistas e familiares de desaparecidos políticos. Além de menções a uma declaração do presidente de que o regime autoritário foi menos grave do que em nações vizinhas e em relação ao Wikileaks, a falta de ações em sua gestão corroborou, na visão deles, para que o governo terminasse com um “mico”.

“A decisão da Corte é um mico para o governo Lula que apareceu internacionalmente no combate à fome, preocupado com questões climáticas”, ataca Igor Grabois, filho de Olímpio Maria e neto de Maurício Grabois. Ele é militante do PCB e foi candidato ao governo paulista neste ano.

Ele considera que a decisão do organismo é importante também para casos mais recentes. Igor citou os crimes de maio de 2006 em São Paulo – quando 564 pessoas foram mortas em nove dias pela Polícia Militar – e na ocupação da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro no início deste mês. “As violações de direitos humanos e a intervenção militar se perpetuam porque a impunidade permanece”, acusa.

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