Em São Paulo, política higienista reforça a miséria, diz especialista

São Paulo – A política higienista da Prefeitura de São Paulo – que inclui práticas como colocar grades em praças, pedras em canteiros e expulsar moradores em situação de rua […]

São Paulo – A política higienista da Prefeitura de São Paulo – que inclui práticas como colocar grades em praças, pedras em canteiros e expulsar moradores em situação de rua com caminhão de água e desinfetante – “reforça a miséria’, avalia Marcelo Caran, especialista em políticas públicas para infância e juventude e coordenador de projetos da Fundação Projeto Travessia.

“Você cerca um viaduto, os moradores de rua não moram mais lá embaixo, isso vai evoluindo para um absurdo de uma prefeitura no período da manhã passar com equipe de limpeza expulsando os moradores de rua e vindo atrás com caminhão de limpeza, jogando desinfetante na praça. Isso é uma realidade que a gente às vezes enfrenta em São Paulo”, descreve.

A adoção de políticas higienistas “vilipendia mais ainda a situação de risco dessa camada da população que já está vulnerável”, analisa Caran. “A leitura do morador de rua é assim, eu não tenho nada, não mereço uma família, uma casa, não mereço dignidade… Vem a prefeitura e me dá um banho de desinfetante, ou seja, de fato eu não mereço nada. Eu sou um bicho, um verme”, afirma.

Durante o 2º Seminário do Programa de Educação na Rua da Fundação Projeto Travessia, nesta quarta-feira (17), Caran explicou que ações consideradas higienistas decorrem da dificuldade humana em lidar com a pobreza e não são exclusividade de São Paulo. Uma característica dessas intervenções é a sutileza das ações.

“Isso tem uma dinâmica velada, sutil”, explica. “A gente vê algumas reformas absurdas e tendenciosas de praças, regiões com grades, regiões com canteiros que viraram canteiros de pedra, regiões de áreas verdes abertas que viraram áreas verdes com grades”, lembra o especialista. “Você vai percebendo que não eram reformas urbanas, eram medidas para que se livrassem daqueles incômodos de moradores em situação de rua naquelas regiões”, critica.

Políticas Públicas

O especialista indica a necessidade de políticas públicas para retirar crianças, jovens e adultos da situação de vulnerabilidade, por meio de diagnósticos e de ações de aproximação e vínculo para descobrir as potencialidades das pessoas que estão em situação de rua. “(É preciso) pensar em políticas públicas integradas e adequadas que atendam aos talentos e dificuldades dessa população”, defende.

Em consequência, a médio e longo prazos, “teríamos um grupo de moradores em situação de rua se tornando mecânicos, funcionários de uma usina, por exemplo”, defende. “(Eles) se tornariam pessoas fora daquele contexto de vulnerabilidade”, acrescenta.

“É mais prático colocar grade, encher de pedra um canteiro, isolar uma área. A lógica do higienismo acontece dessa forma”, diz Caran. “Isso não é uma crítica, é uma reflexão, exercício para que o poder público compreenda que não é o melhor caminho, existem melhores caminhos, mais dignos e produtivos que o higienismo”, propõe.

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