Caso de Comandante Jonas será prioridade nas buscas em Vila Formosa

Virgílio é um dos dez desaparecidos políticos da ditadura que o MPF tem certeza de que foram enterrados clandestinamente em Vila Formosa (Foto: Serviço Funerário/Divulgação) São Paulo – As buscas […]

Virgílio é um dos dez desaparecidos políticos da ditadura que o MPF tem certeza de que foram enterrados clandestinamente em Vila Formosa (Foto: Serviço Funerário/Divulgação)

São Paulo – As buscas pelos restos mortais de Virgílio Gomes da Silva serão prioridade nos trabalhos que serão realizados no Cemitério de Vila Formosa, na zona leste da capital paulista, informa o Ministério Público Federal (MPF). Comandante Jonas, como era conhecido, teve seu corpo enterrado no local entre 1968 e 1969, logo após organizar o sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick.

O MPF e a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos anunciaram na quinta-feira (11) o início dos trabalhos de busca no cemitério, utilizado pela ditadura militar (que durou de 1964 a 1985) para a ocultação das ossadas de desaparecidos políticos. O trabalho contará com ajuda técnica da Polícia Federal e do Instituto Médico Legal.

“Chegar à ossada de Virgílio é importante para nós, mas é muito difícil”, reconhece a procuradora regional da República em São Paulo, Eugênia Gonzaga. “Hoje, a possibilidade maior é que tenha sido retirada do local original. O certo é que temos um avanço, pelo menos sabemos onde era o local”, explica.

Em função de cruzamento de documentos, o MPF considera como certeza que pelo menos dez corpos de desaparecidos políticos foram sepultados clandestinamente naquele cemitério. Mas a família de Virgílio é a única que se apresentou até agora. A luta da viúva Ilda Gomes da Silva e de seus filhos foi interrompida pelo período de exílio em Cuba, sendo retomada no começo da década de 1990, quando se abria a vala comum do Cemitério de Perus, também na capital paulista.

Agora, a busca da família está um pouco menos distante do fim, mas ainda falta um caminho extenso. Vila Formosa passou por um longo processo de descaracterização na década de 1970, como mostrou uma série de reportagens publicadas pela Rede Brasil Atual em julho deste ano. A numeração das quadras foi trocada, árvores foram plantadas sobre túmulos, novas ruas foram abertas sobre as valas, entre outras medidas.

Ao mesmo tempo, equipes técnicas confirmaram nesta semana a suspeita de que pode haver um ossário clandestino sob uma das quadras. Nos esforços de descaracterização, havia sido colocado um canteiro no local, agora removido pela prefeitura de São Paulo. Isso possibilita que a área, de três metros de comprimento por três metros de largura, seja averiguada até o fim deste mês.

Com o início dos trabalhos, o presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antônio Rodrigues Barbosa, demonstrou otimismo à Rede Brasil Atual. Embora reconheça a dificuldade de encontrar os corpos, ele lembra que há um banco que preserva o material genético de familiares de vítimas da ditadura, o que possibilita o cruzamento com os dados de ossadas eventualmente encontradas.

Barbosa elogia a persistência da família do comandante Jonas, apontando que o esforço justifica a capacidade de mobilização dos órgãos. “Seria uma forma bastante significativa de dar à família o direito inalienável de resgatar os seus. É uma ferida que nunca se fecha.”

Leia também

Últimas notícias