STF adia julgamento sobre revisão da Lei de Anistia

Ministro Gilmar Mendes pretende colocar medida em votação apenas quando tiver plenário cheio. Nova data não foi agendada

Gilmar Mendes decidiu adiar votação por ausência de três ministros nesta semana (Foto: U.Dettmar/SCO/STF)

São Paulo – O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, decidiu adiar o julgamento da ação que pede a revisão da Lei de Anistia, previsto para esta quarta-feira (14). O motivo é a possibilidade de falta de quórum mínimo para começar a sessão – oito ministros.

Os ministros Cezar Peluso e Joaquim Barbosa não estarão presentes, respectivamente por compromissos externos e por motivos pessoais. José Antonio Dias Tóffoli, que representou a Advocacia Geral da União (AGU) nesta causa antes de ser ministro, está impedido de participar do julgamento. Mendes considera que, tendo em vista a importância do tema, o melhor é ter plenário completo. Ainda não foi marcada uma nova data para avaliar o caso.

Agora, o STF terá de definir nova data para o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 153, apresentada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A entidade avalia que o artigo 1º da Lei de Anistia, firmada em 1979 como forma de garantir que não seriam julgados os crimes cometidos durante o regime militar, não está claramente avaliado.

A OAB defende que o perdão a crimes “de qualquer natureza”, como foi redigida a lei, não deveria abarcar crimes comuns praticados por agentes públicos, como homicídio, abuso de autoridade, lesões corporais, desaparecimento forçado, estupro e atentado violento ao pudor.

O julgamento da ação apresentada em 2008 é aguardado com ansiedade por entidades de defesa dos direitos humanos e por militares. Diversas entidades se inscreveram como “amicus curiae”, ou seja, instituições que se sentem na condição de debater o tema a favor de uma das partes. Elas acrescentam argumentos que podem influenciar a avaliação dos ministros.

Ivan Seixas, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) de São Paulo, considera que revisar a função da Lei de Anistia é fundamental para a sobrevivência da democracia. “Ter pessoas que estão acima da lei e da sociedade não tem cabimento nenhum. Não pode haver privilegiados porque acaba servindo de mau exemplo. Se você deixa alguém impune, permite que outros, hoje, se sintam impunes”, afirma.

Na prática

A revisão da Lei de Anistia permitiria ao Estado processar militares acusados de crimes cometidos durante a ditadura (1964-85). A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República tentou incluir a criação da Comissão da Verdade, para debater o tema, na terceira edição do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH), mas acabou recuando depois de pressões.

A OAB, responsável pela arguição apresentada ao STF, lança nesta sexta-feira (16) uma campanha em favor da abertura dos arquivos do regime. A entidade escalou artistas para gravarem pequenos vídeos, de 30 segundos cada, a respeito do tema. Fernanda Montenegro, Osmar Prado, Glória Pires, Mauro Mendonça, Eliane Giardini e José Mayer interpretam pessoas que foram mortas pelos militares e, ao fim de cada cena, fazem a pergunta: “Será que essa tortura nunca vai acabar?”.

O Brasil é o único dos países sul-americanos que sofreram com ditaduras durante as décadas de 1960 e 1980 a não ter aberto ainda a possibilidade de punição aos repressores. Argentina, Uruguai e Chile, principalmente, têm conseguido autorização de julgamentos por meio de decisões do Judiciário e não necessariamente por legislação.

“Mês que vem vai ser julgado na Corte Interamericana de Justiça o Brasil diante da comunidade internacional, que quer saber o que o Estado faz em nome da transição para a democracia. O mundo está olhando para o Brasil”, alerta Ivan Seixas.

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