Igualdade racial mobiliza sindicatos

Centrais como a CUT fortalecem o combate a discriminação racial no mercado de trabalho ao priorizar as políticas afirmativas

As políticas de ação afirmativa têm entre seus aliados os sindicatos filiados à Central Única de Trabalhadores (CUT). O combate ao racismo é uma das prioridades da entidade. De acordo com a secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Júlia Nogueira, o governo vem demonstrando interesse real em colaborar com os movimentos sociais, negros e sindicais nessa luta. Prova disso seria a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em 2003.

“A secretaria faz parte de um esforço para corrigir e enfrentar todo o processo de discriminação construído historicamente. Estamos agora na expectativa da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. Apesar das modificações no texto aprovado na Câmara, o Estatuto é importante porque estabelece parâmetros para o desenvolvimento de políticas direcionadas para esse setor, que sempre foi relegado”, ressalta Júlia. 

De acordo com ela, as estatísticas já comprovaram a discriminação racial no mercado de trabalho, o que torna ainda mais importante a atuação da CUT na defesa das políticas afirmativas. “A Secretaria Nacional de Combate ao Racismo da CUT foi criada em 2005 e desde então 27 centrais locais também criaram secretarias com esse propósito. Queremos ampliar ainda mais esse número para refletir, inclusive, como combater o racismo nas próprias estruturas sindicais.”

De acordo com o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2007-2008, elaborado pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 20,6 milhões de pessoas ingressaram no mercado de trabalho de 1995 a 2006. Desse número, apenas 7,7 milhões eram brancos. O restante, 12,6 milhões de pessoas, eram pardas e pretas.

No entanto, o vencimento médio dos homens brancos em todo país equivalia, em 2006, a R$1.164,00, valor 53% maior do que a remuneração obtida pelas mulheres brancas, que era de R$ 744,71. O rendimento dos homens brancos era ainda 98,5% superior ao dos homens negros e pardos, que era de R$ 586,26. Era ainda 200% superior ao rendimento das mulheres negras.

Para mudar essas estatísticas, a Secretaria de Combate à Discriminação Racial da CUT de São Paulo tem atuado em articulação com entidades do movimento negro, inclusive na defesa das cotas nas universidades e da política de saúde da população negra. Para a secretária estadual Rosana Aparecida da Silva, além de cotas no ensino, é fundamental estabelecer cotas para trabalhadores negros no mercado de trabalho.

“As população negra tem uma remuneração menor e uma taxa de desemprego maior. Entra no mercado de trabalho mais cedo e sai mais tarde. No entanto, nas empresas brasileiras, apenas 3% dos cargos de chefia são ocupados por negros e negras”, destaca Rosana.

Ela defende que os sindicatos se preparem cada vez mais para oferecer assistência jurídica para os trabalhadores negros discriminados no trabalho. “Tivemos o caso do Juarez, em Osasco, segurança que foi agredido no estacionamento do Carrefour. Ele não estava em seu local de trabalho, mas o caso foi acompanhado por nós. Exigimos que o Carrefour adote medidas de ação afirmativa que combatam o racismo nesta empresa.”

De acordo com a secretária estadual de Combate à Discriminação Racial da CUT em São Paulo, os sindicatos pretendem realizar, em 2010, um censo étnico-racial nos próprios quadros e verificar se, de alguma maneira, o racismo está sendo reproduzido no ambiente sindical. 

Juliana Cézar Nunes é jornalista, faz parte da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira) do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal. 

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