Crescimento de renda é maior entre os pobres, mas desacelera

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostra ainda redução no número de crianças e adolescentes trabalhando

O crescimento do rendimento médio mensal do brasileiro manteve o ritmo de crescimento em 2008, mas vem perdendo força ano a ano. A elevação detectada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 1,7%, passando de R$ 1.019 para R$ 1.036. De 2006 para 2007, a elevação havia sido de 3,1% e, no período anterior, de 7,2%.

A boa notícia da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) é que o acréscimo foi observado com maior intensidade entre a parcela mais pobre da população. Para os 10% com rendimentos mais baixos, a expansão da renda média foi de 4,3%, contra 0,3% entre a população mais rica.

Novamente, o IBGE constatou que a melhora nos rendimentos da população de baixa renda está associada não apenas ao cenário econômico favorável, mas aos programas do governo federal de transferência de renda, como o Bolsa Família.

“Além de incentivar o aumento da escolarização das pessoas, o que já tem impacto direto no nível de rendimento, com a elevação da renda do trabalhador, ele pode cobrar mais por sua atividade laboral. Se antes se sujeitava a capinar por um preço baixo, sem a mesma necessidade ele passa a poder cobrar mais caro pelo que faz”, afirma Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.

Trabalho infantil e adolescente

O Pnad revelou ainda queda de 0,7 ponto percentual no índice de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos que trabalham. No total, são 4,5 milhões de pessoas, o que corresponde a 10,2% da população brasileira entre essas idades – 400 mil a menos que em 2007. A região Nordeste continua apresentando os piores indicadores, com 12,3% dos trabalhadores infantis, ou 1,7 milhão de pessoas.

Isa Maria de Oliveira, secretária executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, considera que a redução, ainda que demonstrando uma tendência nos últimos anos, não é motivo para comemoração. “São reduções pouco expressivas, que vêm ocorrendo de forma lenta e pouco significativas, muito aquém tanto do ponto de vista da lei, já que até 14 anos toda forma de trabalho é contra a lei, quanto do ponto de vista dos compromissos internacionais que o Brasil assume. Até os 14 anos, a escola tem que ser prioritária e é dever do Estado e da sociedade assegurar esse direito, assim como o de brincar”, afirma.

Mesmo a maior escolarização de crianças e adolescentes “ocupados” não é motivo para comemoração. Ao todo, 81,9% frequentam a escola, quase dois pontos a mais em relação a 2007. Mas Isa Maria de Oliveira lembra que, na concorrência entre trabalho e estudo, a educação é sempre prejudicada. “Com isso se dá um círculo vicioso: pessoas sem preparação para o mercado de trabalho, que vão para a informalidade, com rendimentos baixos e acabam formando famílias pobres e repetindo o ciclo da pobreza”, destaca.