Estudantes de Medicina da UFSCar completam um mês de greve

Professor considera que pauta de reivindicações é bastante consistente e vice-reitor atribui problemas ao processo de implantação do curso

Os estudantes de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) completam nesta quarta-feira (22) um mês de greve. Um movimento inédito na breve história do curso, iniciado em 2006 com a promessa de um currículo inovador. As aulas são dadas para pequenos grupos (de oito alunos) baseadas principalmente na metodologia da solução de problemas, ou seja, os futuros médicos aprendem analisando cada caso.

Mas a implantação de parte deste plano tão ousado esbarra na falta de infraestrutura e em outros problemas de diversas origens. Rafael Pigovar de Camargo Rosa, estudante do 2º ano, destaca que “a gente chegou à conclusão de que não dava mais para continuar. Era um momento em que, se a gente não parasse, o curso por si só ia parar”.

A extensa lista de reivindicações – são 17 pontos – é considerada “bastante consistente e bem articulada” pelo professor Francisco de Assis Carvalho do Vale, vice-coordenador do curso. O docente aponta que parte dos problemas é natural para um curso em implantação, mas outros, de fato, são de falta de infraestrutura.

É o caso do Hospital Escola Municipal prof. Dr. Horácio Carlos Panepucci, que já teve um primeiro módulo inaugurado em 2008. O segundo, no entanto, atrasou e a conclusão chegou a ser prevista apenas para o segundo semestre de 2010. O vice-reitor da UFSCar, Pedro Manoel Galetti Junior, argumenta que o cronograma apresentado pela prefeitura está dentro das previsões. No entanto, um relato da própria administração municipal datado de 20 de maio deste ano aponta que o prefeito Oswaldo Barba pressionou pela aceleração das obras.

Como em 2010 os estudantes de Medicina chegam pela primeira vez ao 5º ano, quando devem fazer o internato, a conclusão do hospital é fundamental para que eles não fiquem simplesmente parados. Agora, a Reitoria da UFSCar prevê a finalização até abril de 2010, como solicitado pelos estudantes.

O Centro de Simulação da Prática Profissional (CSPP), onde os estudantes deveriam treinar técnicas cirúrgicas, é outra obra ainda não concluída – atualmente, os alunos utilizam um centro improvisado. Para evitar futuras surpresas, eles querem a garantia de autonomia e de recursos próprios para o CSPP.

Outra questão afeta os alunos dos primeiros anos. Como previsto nos currículos, desde o começo eles devem participar de grupos de Unidades de Saúde da Família (USF), mas o espaço físico está no limite, fazendo com que esses estudantes não tenham como desenvolver certas atividades. 

Dentro do Programa Político-pedagógico, o curso da UFSCar contempla a figura do preceptor, que é um médico que cumpre a função de docente em campo, ou seja, ensina os alunos na prática. A maior parte dos preceptores é de profissionais da rede municipal de saúde que foram capacitados para exercer a função.

O professor Francisco de Assis Carvalho do Vale aponta que o projeto inicial prevê a contratação de 150 preceptores, mas atualmente a faculdade conta com menos de um terço. Um número baixo, mesmo considerando que ainda não existem o 5º e o 6º anos. O vice-reitor admite o problema e aponta que tem conversado com o município e com os ministérios de Saúde e de Educação de forma a resolver o problema.

Diálogo

A greve dos estudantes de Medicina da UFSCar trata-se de um caso raro em que ambos os lados estão abertos ao diálogo. Os estudantes apontam que têm sido recebidos frequentemente pela Reitoria, diferentemente do que tem ocorrido na USP, por exemplo, e mesmo os professores não tentam ridicularizar o movimento, como elucidado acima pela fala de Francisco de Assis Carvalho do Vale.

O vice-reitor Pedro Manoel Galetti destaca que antes da paralisação já havia conversa entre alunos e administração. “A pauta resgata todos os problemas da implantação de um curso novo e eram coisas que já estavam sendo tratadas. Não há momento em que nós devemos encerrar negociação ou que a negociação não avançou, estamos trabalhando nisso há muito tempo”, pondera.

O aluno Rafael Pigovar de Camargo Rosa aponta que “a gente gosta do que tem e acredita muito no projeto político-pedagógico. Estamos brigando para que ele seja colocado na prática da maneira como foi feito”.

Concordando com a hipótese levantada pelo vice-reitor, o professor Francisco de Assis Carvalho do Vale vai além: “todo curso que está se implantando encontra dificuldades, barreiras a serem removidas. Entretanto, há outras dificuldades que são inerentes ao curso de Medicina, que é um curso muito complexo, muito trabalhoso, muito ambicioso”.

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