Camponeses do Pará completam um mês de prisão por protesto

Foram detidas 18 pessoas durante ocupação das obras das eclusas do Rio Tocantins e quatro continuam na prisão

Três desembargadores do Tribunal de Justiça paraense já tiveram o pedido de habeas corpus dos quatro camponeses em mãos, mas nenhum deles avaliou o caso. Segundo Rogério Höhn, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no estado, um juiz de Tucuruí determinou que os camponeses continuassem na cadeia com a alegação de manter a ordem pública. 

A prisão ocorreu em 26 de abril, um domingo, quando cerca de 400 integrantes do MAB e camponeses ocupavam as obras das eclusas do Rio Tocantins. Em 15 de maio, 14 dos 18 detidos foram liberados. Rogério Höhn alega que a desocupação promovida pela Polícia Militar na ocasião, por si só, deveria ser considerada ilegal, já que os trabalhadores ocupavam uma área federal. Agora, os trabalhadores respondem a 11 processos, incluindo formação de quadrilha, sequestro, “tudo o que a gente possa imaginar em termos de criminalização dos movimentos sociais”, afirma o coordenador. 

A pauta de reivindicação dos manifestantes é extensa e tem pontos antigos, como o pagamento de indenização para as 32.000 famílias deslocadas pela construção da hidrelétrica de Tucuruí entre as décadas de 70 e 80. Além disso, o MAB denuncia a perseguição aos trabalhadores rurais – segundo a Comissão Pastoral da Terra, 14 líderes na luta por reforma agrária foram mortos nos últimos três anos. 

Segundo pescadores, no período de enchimento do lago da hidrelétrica de Tucuruí foram usados produtos tóxicos que poluem o local e provocam doenças nos que usam as águas do Rio Tocantins para o consumo. 

A energia gerada por Tucuruí é subsidiada para utilização de multinacionais do setor de alumínio. Ao mesmo tempo, a população de Vila Cametá, a apenas 15 quilômetros da obra, ainda não tem acesso à energia elétrica.