Diário do Bolso

A CPI da Covid vai querer grudar essas mortes em mim, só porque sou o presidente

Enfim, Diário, é só eu provar que eu não disse o que eu disse e que eu não fiz o que eu fiz

Arte @diáriodobolso
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Diário, essa semana vão instalar a porcaria da CPI da Covid. Vai ser um inferno! Vão querer grudar essas mortes aí em mim. Só porque eu sou o presidente. Mas eu vou provar umas coisas, por exemplo:

1-) Que não tenho culpa por não ter comprado os 70 milhões de doses da vacina da Pfizer. No tocante a isso, acho que vou dizer que estava sem cheque na hora. Ou que o país estava no dia ruim do cartão.

2-) Que eu não minimizei a pandemia dizendo que a covid era só uma “gripezinha”. O jeito, nesse caso, vai ser dublar aquele discurso que eu fiz em cadeia nacional.

3-) Que não fui contra medidas anti-aglomeração, como na sexta-feira, quando disse no programa do Siquêra que ia botar o exército na rua contra o toque de recolher.

4-) Que não incentivei o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, tipo a santa cloroquina, que cura tudo, até espinhela caída.

5-) Que a situação do Amazonas não foi deixada de lado (pô, mas os caras vão ficar doentes logo nas festas de fim de ano? Eu já tinha marcado tudo lá pra Santa Catarina).


Comparsas de Adriano da Nóbrega ligaram para ‘Jair’ e ‘cara da casa de vidro’ após morte do miliciano


6-) Que eu não desacreditei a CoronaVac e nunca disse “A da China nós não compraremos. É decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população”.

7-) Que eu coordenei o enfrentamento à pandemia com competência, tanto que formei um comitê no dia 24 de março (só que de 2021. Mas pressa pra quê?).

😎 Que eu não entreguei o Ministério da Saúde a pessoas não especializadas (o Pazzuelo conhece umas simpatias contra covid que são tiro e queda, pô! Você corta uma cebola roxa em quatro partes… Ah, depois eu explico!).

9-) Que não desperdicei testes (aliás, testar pra quê? Se o cara não tá doente, tudo bem; se tá, melhor nem saber).

10-) E que eu não fui contra procedimentos de segurança, como quando eu disse que “máscaras de pano são uma ficção e possuem proteção praticamente zero”.

Enfim, Diário, é só eu provar que não disse o que eu disse e que eu não fiz o que eu fiz. E que o que eu disse não é o que eu disse, e o que eu fiz não é o que fiz. E que o que eu fiz não é o que eu disse, e que eu disse não é o que eu fiz. Mas isso eu já faço todo dia.


E o cara da casa de vidro, hein, Diário?

Diário, aquele site Intercept interceptou uma investigação que interceptou uns telefonemas que interceptaram minhas ligações com o Adriano da Nóbrega, aquele miliciano amigo da minha família.

Se a gente estivesse num país sério, isso aí ia interceptar o meu mandato. Ainda bem que não!

Foi o seguinte: a polícia, depois da morte do Adriano, interceptou umas ligações dos parceiros dele.

O Ronaldo Cesar, alcunhado “o Grande”, nem esperou o corpo do defunto esfriar. No mesmo dia (9/2/2020) ligou para uma mulher falando que ia telefonar para o “cara da casa de vidro”. E quem é o cara da casa de vidro? Pois é…

Quatro dias depois, o pecuarista Leandro Abreu Guimarães e sua mulher Ana Gabriela Nunes (casal que escondeu o Adriano numa fazenda) falaram de um tal de “Jair”. Que Jair é esse? Pois é…

Depois disso, a polícia sugeriu parar com os grampos do casal e do Grande. E o Ministério Público Estadual do Rio, que não pode investigar suspeitas sobre o presidente da República, aceitou a sugestão.

Antes, a mesma coisa tinha acontecido quando a irmã e um parça do Adriano (o Orelha) me citaram em telefonemas. O Orelha contou que “Adriano dizia que se fodia por ser amigo do Presidente da República”. Aliás, o Orelha foi morto numa emboscada na frente da sua casa assim que saiu ao seu mandado de prisão.

E teve mais gente que não teve a quebra de sigilo renovada

Por exemplo, o Gilsinho de Dedé, dono do sítio onde o Adriano foi morto vereador em Esplanada (pelo PSL).  

Na época, o Gilsinho disse que não conhecia o Adriano. Mas as interceptações desinterceptadas pelo Intercept mostram que eles se encontraram pelo menos duas vezes.

Agora vão querer me ligar a essas coisas, só porque fui no tribunal quando o Adriano estava sendo julgado, só porque defendi o Adriano na Câmara, só porque mandei o Flavinho condecorar o Adriano quando ele estava preso e só porque a mãe e a ex-mulher do Adriano eram funcionárias do Flavinho na Alerj.

O bom, ou melhor, o ótimo é que ninguém que ajudou o Adriano foi indiciado. Nem o casal pecuarista, nem Gilsinho, nem a mãe do Adriano, sua ex-mulher e sua irmã.

É que nem eu sempre digo: acabou a corrupção!

Kkk!


cpi da covid

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