Diário do Bolso

Diário, segredo nosso: minha caneta falhou

Eu estava decidido a mandar o Mandetta embora, mas os caras vieram com uma borracha enorme. Aí foi melhor ficar quieto, pô

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR

Diário, eu tenho cara de rainha da Inglaterra? Tenho?

Porque é nisso que estão querendo me transformar.

Já não posso nem dar cartão vermelho pra quem eu quero.

Ontem, o papel da exoneração do Mandetta estava em cima da minha mesa. Era só assinar e mandar a estrelinha para casa. Como é que um ministro pode ser mais que eu? Nem a Regina Duarte, que era estrela de verdade, apareceu tanto assim.

Mas eu não consegui. O Mandetta está indemissível. Ou será que o certo é indespedível? Inixonerável? Sei lá. O que eu sei é que ele nem precisa de máscara cirúrgica, porque anda mascarado demais.

Pô, eu já disse que a hidrocloxiacianina…hidrococoquinina…, hidroarlequina…, que aquele negócio lá cura a covid-19. Por que ele não acredita em mim? Eu acho que mereço até o Nobel de Medicina por dar força pra esse negócio (ou também posso ganhar o Nobel da Paz por ter liberado as armas. Qualquer um dos dois tá bom).

Diário, eu ando tão sem moral que, no sábado, chamei o Alcolgelumbre pra uma reunião e ele não veio. Pô, se eu chamo tem que vir! E depois ainda mandou recadinho, dizendo que a demissão do Mandetta ia implodir a ponte entre o Congresso e o Planalto. Vá tomar no… banho!

Olha, eu estava decidido, Diário. Ia mandar o Mandetta fazer um trio sertanejo com o Jorge e o Mateus. O pessoal dele até já tinha esvaziado as gavetas. Mas o Braga Neto, da Casa Civil, e o Fernando Azevedo, da Defesa, falaram que eu não podia fazer isso, que a minha popularidade ia pro saco, que ia ter panelaço e o escambau.

Aí eu disse: “Não quero mais o Mandetta e pronto!”.

E o Braga Neto respondeu: “Sem o Mandetta, você pode acabar sem o mandato”.

Eu peguei minha Bic da Compactor, levantei bem alto, que nem uma espada, e gritei: “A caneta é minha!”.

E o Fernando Azevedo falou baixinho: “Mas a borracha é nossa”.

Aí eu fiquei quieto, pô.

Olha, Diário, na coletiva de imprensa, eu até pensei que o Mandetta estava querendo fazer as pazes comigo, porque entendi que ele tinha dito “Mito da Caserna”. E o Mito da Caserna sou eu, talkei? Mas depois me explicaram que ele estava falando dum tal de “mito da caverna”.

Pô, será que ele me chamou de selvagem?

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