Orquestra Imperial chega ao segundo álbum em grande estilo

Você poderá ficar indignado com a afirmação de que lerá a seguir sobre um dos melhores álbuns desta década. Afinal, como é possível denominar algo a respeito de uma década […]

Você poderá ficar indignado com a afirmação de que lerá a seguir sobre um dos melhores álbuns desta década. Afinal, como é possível denominar algo a respeito de uma década que começou há apenas dois anos. Mas basta ouvir as primeiras faixas de “Fazendo as pazes com o swing”, o segundo álbum da Orquestra Imperial para descobrir que não se trata de um impropério ou uma avaliação sem fundamento, mas uma certeza contundente.

Trata-se da big band formada em 2002, como uma orquestra típica de gafieira, reunindo vários nomes importantes da cena pop carioca, como Rodrigo Amarante, Moreno Veloso, Domenico Kassin, Thalma de Freitas, Rubinho Jacobina e Wilson das Neves, entre outros. A turma só lançou o primeiro álbum, “Carnaval só ano que vem” em 2007.

A primeira faixa de “Fazendo as pazes com o swing” é “Moléculas”, de Nina Becker e Ruben Jacobina. Ela nos põe frente a um grande paradoxo – por um lado, é futurista, principalmente aos arranjos de sopros de Altair Martins. Por outro lado, não se trata de qualquer futurismo, mas aquele que parecia ser cantado por Gal Costa no início da década de 70. Portanto, ela mostra que é possível ser futurista e retrô, ao mesmo tempo.

“Filme de terror para namorar / mil e uma noites em Bagdá / sempre é bem mais lindo do lado de lá / tudo parece ser tão melhor / tudo é muito mais que um átomo só”, canta Nina Becker. Ela é seguida pela irresistível salsa “Tamancas do Caretê”, de Domenico Lancellotti, Ruben Jacobina, Nelson Jacobina, Berna Ceppas e Pedro Sá, cantada por Rubinho: “Você que está tentando se esquecer / parado aí sem ter o que fazer / vai esperando o tártaro crescer / já demorou virou tataravô”.

Com certo toque bossa nova “Fala Chorando”, conta com a sensualidade da interpretação genial de Thalma de Freitas: “Lágrimas são páginas / cheias de palavras que você não pode mais continuar falando / porque a memória emudece a sua voz / e então você fala chorando”. O mesmo clima transpassa para o irresistível e clássico samba “A saudade é que me consola”, de Wilson das Neves e Paulo Cesar Pinheiro, lançado pelo Quarteto em Cy e aqui cantado pelo próprio Wilson das Neves e por Moreno Veloso.

Rodrigo Amarante traz sua identidade vocal para o samba malandro “Pode Ser”, composto pelo próprio: “Pode ser que a gente se veja outra vez / pode ser que o tempo me ensine o que eu já sei / tudo que eu toco tem você / em tanto que você me fez tocar”. Mas talvez a melhor faixa do álbum seja “Cair na folia”, de Argemiro Patrocínio e Paulinho Cesar, que começa quase como uma cantiga de ninar e se transforma num grande samba enredo: “Não vou mais me machucar com desamor / cair na folia! eu vou, são só três dias! e esquecer do que passou!!”.

A sensual “Enquanto a Gente Namora” é uma parceria de Thalma de Freitas e João Donato, que se encontraram também na gravação: “Começo de amor / Inicia o verão / Chove cântaros lá fora / Enquanto a gente namora”. No mesmo clima há “Alcaçuz”, cantado por Nina Becker.

Já o samba mais tradicional é a tônica de “Velha Estória”, de Domenico, Lancellotti e Kassin: “Não vou continuar perdendo tanto tempo / inútil insistir no mesmo erro / permanecemos mas não resolvemos nada / deixando muita coisa para trás”.  Mas será impossível mesmo é não querer puxar a parceira e sair dançando pela casa ao som de “Aguenta Mais”, de Ruben Jacobina.

O álbum termina com a doce “Ouvindo Vozes”, de Ruben Jacobina e Guga Ferraz, na voz de Moreno Veloso; “Apaixonado”, de Paulo Cesar Pinheiro e Wilson das Neves, que a interpreta com seu vozeirão; e a instrumental e suingadíssima “Mocotó em Tijuana”, de Altair Martins.

Final apoteótico para um álbum imprescindível para os amantes da melhor música brasileira – “Fazendo as pazes com o swing”. Pazes mais do que feitas e uma bela homenagem ao compositor, violonista e guitarrista Nelson Jacobina, que morreu aos 58 anos, vítima de um câncer, em maio de 2012, e foi um integrante fundamental na trajetória da Orquestra Imperial. Jacobina, aliás, é o personagem que ilustra a capa do CD.

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