Espetáculo apresenta obra de James Joyce pelas ruas de São Paulo

A atriz Lígia Helena em cena de montagem inusitada de texto de James Joyce, em São Paulo (©Sueli Almeida/divulgação) Um ator de pijama caminha e divaga por um quarto contornado […]

A atriz Lígia Helena em cena de montagem inusitada de texto de James Joyce, em São Paulo (©Sueli Almeida/divulgação)

Um ator de pijama caminha e divaga por um quarto contornado por vários abajures, uma mesinha com aparelhos para fazer café, e forrado por um lençol branco no chão, onde está deitada uma mulher. Com cadeiras ao redor, o espectador é convidado a se aconchegar e começar a acompanhar a história de Leopold Bloom, um típico irlandês do início do século XX, extremamente apaixonado pela esposa Molly.

Assim é o mote do espetáculo “Ulisses Molly Bloom – Dançando Para Adiar”, atualmente em cartaz na Casa das Rosas, em São Paulo, de graça, e baseado na obra do romancista, contista e poeta irlandês James Joyce, que teria completado 130 anos em 2 de fevereiro. A peça trata desde temas cotidianos, que pertencem à rotina de um homem que vai ao trabalho, até as divagações em torno da relação construída por ele com a deslumbrante esposa Molly, que, ao mesmo tempo, em que o encanta, também o amedronta.

Porém, se o texto parece, em alguns momentos, muito distante do público do século XXI – e não pouco se faz para resolver o problema – o grande charme está em se valer de recursos aparentemente simples como um megafone para transportar o espectador numa viagem temporal pelos diferentes ambientes da Casa das Rosas e em seu torno, que inclui trecho da Avenida Paulista e do bairro do Paraíso. É impossível não ficar encantado com os contrastes provocados e que muitas vezes são evidenciados pelos próprios atores, como quando Leopold Bloom menciona as estrelas e o ator Paulo Gircys aponta para a placa do banco Itaú.

O aparentemente desajeitado ator Paulo Gircys consegue segurar o espetáculo como um misto de irlandês do século XIX – destaque aqui também para os excelentes figurinos – e de cicerone dos espectadores pelas ruas de São Paulo. Já Lígia Helena passa os primeiros momentos da peça praticamente desacordada, parece começar um pouco fria, mas, aos poucos, vai arrebatando o público de modo entusiasmante, principalmente nos momentos em que faz parte dos delírios ou lembranças de Leopold Bloom. Eles também interagem bastante com o público, escolhendo, inclusive, uma pessoa para dançar com eles na rua, com a noite enluarada ou chuvosa.

Portanto, a peça “Ulisses Molly Bloom – Dançando Para Adiar”, de Marcelo Giannini e Carina Prestupa (responsáveis pelo texto e pela direção) pode, em muitos momentos, soar distante do espectador e de difícil assimilação, mas possui uma concepção cênica que supera quaisquer deficiências, seja pela qualidade da encenação concebida por Marcelo Giannini e pela dramaturgia de Lucienne Guedes e Marcio Castro. E encanta também por mostrar um trecho bastante frequentado da capital paulistana por um prisma completamente inusitado e inédito.

Serviço
Peça Ulisses Molly Bloom – Dançando para Adiar
Cia. Estrela D’Alva de Teatro. Até 27/10 – sexta-feira, 20h, e sábado, 16h. Grátis
Casa das Rosas – Avenida Paulista, 31. Bela Vista. São Paulo/SP
T: (11) 3285-6986

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