Peça ‘Camille & Rodin’ mistura amor e arte em temporada no Masp

Cena de ‘Camille & Rodin’: interpretações e cenografias se unem em espetáculo de primeira qualidade, no Masp (©Alberto Catan/divulgação) Na França, do século XIX, o mestre da escultura e pintura […]

Cena de ‘Camille & Rodin’: interpretações e cenografias se unem em espetáculo de primeira qualidade, no Masp (©Alberto Catan/divulgação)

Na França, do século XIX, o mestre da escultura e pintura Auguste Rodin conhece a talentosa aprendiz Camille Claudel, dona de uma mente fervilhante mas atormentada, por quem se apaixona. Essa é a base do magistral espetáculo “Camille & Rodin”, em cartaz no Grande Auditório do Museu de Arte de São Paulo (Masp), até 28 de outubro, e que, com direção de Elias Andreato e texto de Franz Keppler, discute, além da relação amorosa tumultuada, o cenário político e social da época, além do mundo das artes e dos interesses nelas envolvidos.

O espetáculo começa com Auguste Rodin, numa interpretação arrasadora de Leopoldo Pacheco, também responsável pelo visagismo (a concepção da maquiagem e do cabelo dos atores), chegando em seu ateliê e procurando Camille Claudel, numa atuação soberba de Melissa Vettore, que vai, aos poucos, conquistando e envolvendo o espectador. Ao mesmo tempo, ela aparece subindo ao topo de uma escada, de onde declara ao irmão desaparecido que deseja dedicar à vida a se tornar escultora. Aos poucos, começam a se misturar o presente dos dois personagens com o momento em que se relacionam.

Auguste Rodin apaixona-se por Camille Claudel, de quem se torna amante, em função de já ser casado, e na qual descobre sua nova fonte de inspiração e com quem resolve dividir um ateliê. Ele se relaciona muito bem com a alta burguesia da capital francesa e com os críticos, que ajudam a financiar suas obras, como a Porta do Inferno, que deseja que venha a se tornar sua obra principal, com referências à “Divina Comédia”, de Dante Allighieri; e “As Flores do Mal”, de Charles Baudelaire. No espetáculo, também é citado o poeta romântico francês Arthur Rimbaud, de “Uma temporada no inferno”.

Já Camille Claudel vive atormentada pela ausência do irmão, que sumiu numa guerra e a quem passa a escrever longas cartas, sempre sem respostas; não suporta o fato de ter sua obra rejeitada, mas, na única exposição que realiza, resolve convidar bêbados e mendigos e, com isso, não vende uma única peça; e se sente plagiada pelo próprio mentor e amante. Aos poucos, ela vai enlouquecendo até perder por completo o controle da própria vida.

Apenas esse enredo seria o suficiente para conquistar o espectador, mas essa história já foi contada inúmeras vezes, inclusive no cinema – “Camille Claudel” (1988), de Bruno Nuytten. Por isso, o que encanta no espetáculo “Camille & Rodin” é, além das interpretações fantásticas de Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore, toda a concepção cênica. O cenário, criado por Marco Lima, divide o palco em duas partes – uma com o ateliê de Rodin e outra com uma cama e a escada. No fundo do palco, há três portas que simulam serem de vidro e que, em muitos momentos, mais parecem janelas com vitrais e que são utilizadas para a entrada e a saída dos personagens, ajudando bastante na dinâmica da narrativa.

A trilha musical de Jonatan Harold também exerce função primordial no espetáculo. Mas o que mais chama atenção mesmo é a deslumbrante concepção de iluminação de Wagner Freire, que merece ser pelo menos indicada em todos os prêmios da categoria. Afinal, a variação de cores exibidas atrás das tais portas e vistas pelos vidros é fantástica e totalmente em harmonia com cada momento da narrativa.

“Camille & Rodin” é daqueles espetáculos que arrebata o espectador e o envolve na história. A concepção cênica é caprichada e só auxilia na excelente interpretação dos dois atores em cena. Antes mesmo do fim da encenação, já é imaginável que o público a saudará com os gritos de “bravo!”, o que de fato acontece. E é apresentado no local ideal – o teatro do Masp, um dos templos sagrados das artes visuais em São Paulo.

Serviço
Peça “Camille & Rodin”. Até 28/10. Sessões sextas e sábados, 21h; e domingos, 19h30
Ingressos – R$20 (sexta) e R$30 (sábado e domingo)
Grande Auditório do Masp – Avenida Paulista, 1578. T: (11) 3171-3267

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