Dona Onete esbanja o charme e o feitiço da música paraense

Primeiro disco da nova estrela da música popular brasileira produzida no Pará, ainda pouco conhecida do restante do país (©reprodução) A nova estrela da música paraense, Dona Onete, tem 73 […]

Primeiro disco da nova estrela da música popular brasileira produzida no Pará, ainda pouco conhecida do restante do país (©reprodução)

A nova estrela da música paraense, Dona Onete, tem 73 anos e acaba de lançar seu primeiro álbum, “Feitiço Caboclo”, com todas as canções, autorais. É curioso saber que, mesmo exercendo a profissão há anos, ela nunca conseguira gravar e agora já emplaca pelo menos um sucesso, “Jamburana”, que começa com uma risada irresistível e uma letra para lá de sensual e em que lista pratos famosos da culinária local: “O pato no tucupi tem jambú tem jambú / O famoso tacacá tem jambú tem jambú / O arroz paraense tem jambú tem jambú / Caldeirada no Pará tem jambú tem jambú / O vatapá e o caruru a gente enfeita com jambú”.

Há quem compare Dona Onete a Omara Portuondo, cantora cubana redescoberta a partir do projeto “Buena Vista Social Club”, desenvolvido pelo cineasta Wim Wenders e pelo músico Ry Coode,r em relação à música da ilha caribenha. Porém, nesse caso, a descoberta da cena musical do Pará e da guitarrada local ainda não tem a mesma projeção internacional e nem se trata especificamente de um olhar externo de valorização. Porém, em comum, elas possuem a mesma personalidade marcante na voz, o prazer do canto e o mesmo talento para levar todo mundo a dançar. É o que se sente nas ótimas “Balança crioulo”, “Moreno amorenado” e “Lua namoradeira”.

A faixa que abre o álbum é “Poder da Sedução”, um daqueles bolerões típicos dos anos 70, com direito até a alguns versos recitados: “Quero rever essa mulher / Não sei o seu nome / O seu endereço, o seu telefone / Só sei que um dia eu vou lhe encontrar / Numa noite de luar”. Esse clima doce e regional retorna em “Boi guitarreiro”, em parceria com o produtor do álbum Marcos André, também responsável pelo arranjo base.

Há ainda a participação especial dos guitarreiros Mestre Vieira, Pio Lobato e Manoel Cordeiro. Aliás, a parte instrumental do álbum é fantástica, como se percebe em “Feitiço caboclo”, que trata do pó de tamaquaré, que é um lagarto da Amazônia. As cantoras Gaby Amarantos, Lia Sophia, Luê Soares e Keila Gentil também participam, em “Homenagem aos Orixás” e “Louco desejo”.

Há também o irresistível samba eletrônico “Rio de Lágrimas”, sucesso nato composto em parceria com Mg. Calitre, que termina com um hip hop: “Quando você me deixou / Eu quase chorei um rio de lágrimas / Descobri que é bobagem / Consegui me levantar / Agora eu sou feliz / Tenho outro amor em seu lugar / Agora vou lhe dizer / É tão diferente de você / Me ofereceu muito amor e eu não vou vacilar”. E o faceiro, brejeiro e contagiante “Carimbó chamegado”.

A chegada de Dona Onete ao cenário musical fonográfico brasileiro merece ser extremamente comemorada, e o vigor e a energia de suas canções demonstram que a cena musical paraense merece ser vista com bastante atenção, pois é das que esbanjam qualidade em contraste a uma certa pasmaceira que impera na música nacional. É importante, no entanto, respeitar a diversidade da música do estado e não encará-la como um grande tecnobrega, como boa parte da mídia tenta fazer.

[email protected]