Lília Cabral confirma ser diva do palco em ‘Maria do Caritó’

Dani Barros e Lília Cabral, performances ‘estupendas’ para comédia premiada, em cartaz na capital paulista (©Claudia Ribeiro/divulgação) A atriz paulistana Lília Cabral, aos 55 anos, é merecidamente reconhecida como uma […]

Dani Barros e Lília Cabral, performances ‘estupendas’ para comédia premiada, em cartaz na capital paulista (©Claudia Ribeiro/divulgação)

A atriz paulistana Lília Cabral, aos 55 anos, é merecidamente reconhecida como uma das grandes divas dos palcos e das telas brasileiras, afinal, seu talento já deu vida aos mais diferentes tipos de mulheres. Mas ela parece ter se encontrado mesmo na frágil, porém forte lutadora Maria do Caritó, título da peça escrita por Newton Moreno especialmente para a atriz e dirigida por João Fonseca.

Não é à toa que esse espetáculo foi um dos mais reconhecidos nos últimos anos. Apenas no prêmio Shell de 2010 recebeu seis indicações – recorde! – e levou a de melhor diretor. Também ganhou como melhor direção, atriz e espetáculo no Prêmio Arte Qualidade Brasil 2010.

Maria do Caritó é uma solteirona, moradora do interior nordestino e que sempre, em junho, faz promessas a Santo Antonio para arrumar um namorado e, para isso, tenta, sem sucesso, apanhar uma bandeirinha no topo de um pau de sebo. Porém, ela foi jurada pelo pai a um santo pouco conhecido, Santo Djalminha, e, por isso, não pode se casar em vida. Até que chega à cidade um circo que precisa de uma nova estrela, já que está às mínguas e a anterior simplesmente se mandou. É quando o artista principal da trupe resolve se valer do seu poder de sedução.

O espetáculo, aliás, começa com uma narração em off de Lilia Cabral especificando que caritó é, na cultura popular nordestina, uma pequena prateleira no alto da parede, ou nicho nas casas de taipa, onde as mulheres escondem, fora do alcance das crianças, o carretel de linha, o pente, o pedaço de fumo, o cachimbo.

E assim, a moça que ficou no caritó é aquela que ficou na prateleira, sem uso, esquecida, guardada intacta. Em seguida, o nome dos integrantes da equipe técnica aparece em caixas e flâmulas carregadas pelos atores.

Com grande carisma, Lília Cabral lembra um pouco a recatada personagem Amorzinho, que interpretou na telenovela “Tieta”. Também canta e dança como poucas vezes se viu, levando a plateia às gargalhadas.

Mas o que mais impressiona é a candura, docilidade e força de vontade que a diva consegue emitir à personagem. Por isso, não é exagero compará-la à divina atriz italiana Giulietta Masina, que estrelou pelo menos dois filmes marcantes do marido e cineasta Federico Fellini – “A Estrada” (1954) e “As Noites de Cabíria” (1957).

Aliás, no primeiro filme, Giulietta é a doce e humilde Gelsomina. Portanto, não se trata aqui de rebaixar a brasileira ao talento da italiana. Trata-se, sim, de identificar semelhanças entre as duas rainhas da dramaturgia.

Não bastasse a presença fantástica de Lília Cabral, o elenco conta com outros atores excepcionais. Dani Barros é estupenda. Talvez desde “Os Saltimbancos” não se veja alguém interpretando tão bem uma galinha. É um momento magistral.

Eduardo Reyes encarna vários personagens, do rapaz forte e cheio de lábia do circo ao herói romântico. Fernando Neves encarna o religioso pai da protagonista. E Silvia Poggetti é Fininha, a fiel escudeira de Maria do Caritó. Quase uma Sancho Pança de saias.

“Maria do Caritó” também não provocaria o mesmo êxtase coletivo não fosse o trabalho magistral de Nello Merrese, responsável por trazer a linguagem do circo, das festas juninas do interior e outros aspectos da cultura nordestina para o cenário.

O artista plástico Anderson Thives, por sua vez, criou com exclusividade imagens de Santo Antonio, Santa Maria do Caritó, São Djalminha e São João. A música, cuidada por Alexandre Elias, também está presente quase o tempo todo na voz dos atores, muitíssimo afinados e bem ensaiados. Por sua vez, a iluminação é de Paulo Cesar Medeiros e os figurinos são assinados pelo inconteste J. C. Serroni e tem um colorido primoroso.

Serviço
Peça Maria do Caritó
Sexta, às 21h30, sábado, às 21h, e domingo, às 18h. Até 16/12
Ingressos de R$30 a R$80
Teatro FAAP – Rua Alagoas, 903. Higienópolis.
T: (11) 3662-7233 e 3662-7234 

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