Estrelado por Juliette Binoche, ‘Elles’ bota em xeque moralismos e hipocrisias

Juliete Binoche, às voltas com as imposições sociais da vida moderna em “Elles” (©divulgação) O plano geral mostra uma imensa mesa de café da manhã, com vários produtos posicionados sobre […]

Juliete Binoche, às voltas com as imposições sociais da vida moderna em “Elles” (©divulgação)

O plano geral mostra uma imensa mesa de café da manhã, com vários produtos posicionados sobre ela, à frente de uma espécie de lareira e de estantes de livros. Ao redor dela, estão sentados dois garotos, um homem em idade avançada e a jornalista Anne, belamente interpretada por Juliette Binoche. Trata-se de um retrato bastante ácido da incomunicabilidade da sociedade contemporânea e que pertence ao filme francês  “Elles”, que chega aos cinemas brasileiros nessa sexta-feira (27), com bastante atraso, já que foi lançado na França em fevereiro.

A jornalista Anne prepara uma reportagem para a importante revista feminina “Elle” a respeito de jovens estudantes universitárias em Paris, na França, que se prostituem para pagar os estudos e conseguirem comprar os artigos de luxo com os quais sonham. Ao entrar em contato com Alicja e Charlotte. Porém, ela não imagina que entrevistá-las a fará rever tantos conceitos importantes de sua própria vida.

As histórias de Alicja e Charlotte são descritas com detalhes e, em algumas cenas, com tantos requintes de crueldade, que talvez nem mesmo o escritor francês Marquês de Sade seria capaz de descrever em seus romances do século XVIII. É possível até estabelecer um diálogo com o ótimo livro da psicanalista e historiadora também francesa Elisabeth Roudinesco, a respeito da crueldade –“A Parte Obscura de Nós Mesmos: Uma História dos Perversos”.

Em meio aos afazeres domésticos, lindamente filmadas, Anne se vê totalmente conquistada por Alicja e Charlotte, a tal ponto de se permitir beber vodca com uma delas, imigrante da Polônia (Joanna Kulig); e penetrar na intimidade da outra (a linda e meiga Anais Demoustier). 

A diretora polonesa Malgoska Szumowska consegue penetrar num universo que permanece extremamente machista e hipócrita, e obtém dali um filme absolutamente encantador e provocador. As cenas aparecem em total sincronia com a trilha musical, criada por Pawel Mykietyn, que mistura música erudita com a música popular francesa.

Portanto, “Elles” não é apenas um ótimo filme, também em função de contar com ótimas atuações, mas leva o espectador a reflexões importantes a respeito da sociedade atual, uma vez que a realidade das jovens garotas de programa permanece a mesma praticamente no mundo todo.