Caetano Veloso e David Byrne juntos e ao vivo em CD histórico

“Bota essa porra pra funcionar! Toma vergonha na cara e vamos começar do começo”. Quem esteve em 5 de outubro de 2004, no Anhembi, em São Paulo, ou acompanhou pela […]

“Bota essa porra pra funcionar! Toma vergonha na cara e vamos começar do começo”. Quem esteve em 5 de outubro de 2004, no Anhembi, em São Paulo, ou acompanhou pela tevê a edição daquele ano do Video Music Brasil (VMB), a premiação anual da emissora de televisão MTV, dificilmente se esquecerá da raiva de Caetano Veloso, após tentar duas vezes, sem sucesso, cantar “(Nothing But) Flowers”, ao lado do cantor escocês David Byrne, ex-líder dos Talking Heads. Oito anos depois, chega às lojas o excelente CD “Caetano Veloso and David Byrne Live at Carnegie Hall”, que registra o show realizado, obviamente, na famosa casa de espetáculos nova-iorquina, em 17 de abril daquele mesmo ano.

Acompanhado pelo violoncelista Jacques Morelenbaum e pelo percussionista Mauro Refosco, além de David Byrne na guitarra, Caetano Veloso, que também toca violão, abre o show extremamente simpático e esbanjando candura ao interpretar os sucessos “Desde Que o Samba é Samba”, “Você é Linda”, “Sampa”, “O Leãozinho”, “Coração Vagabundo” e “Manhatã”, que foram compostas num período de trinta anos, entre 1967 e 1997. 

Em seguida, ele interpreta uma canção de Byrne, “The Revolution”, que comparece ao palco para um belo e marcante dueto. Em seguida, é a vez do escocês, que interpreta sucessos de sua ex-banda Talking Heads, como “And She Was”, “Life During Wartime” e “Road to Nowhere”, além das canções da carreira solo “Everyone’s in Love with You”, “She Only Sleeps” (temperada por uma interpretação maliciosa de Caetano) e “God’s Child”.

Ocorre, então, outro encontro emocionante de Caetano Veloso e David Byrne na parceria “Dreamworld: Marco de Canaveses”. Em seguida, eles cantam “Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê”, de Caetano Veloso e do filho dele, Moreno e a famigerada “(Nothing But) Flowers”, do repertório do Talking Heads. O show termina do modo mais apropriado possível, com uma ode ao nosso planeta e ao paraíso – “Terra”, de Caetano Veloso, e “Heaven”, de David Byrne, com cada um interpretando a respectiva canção.

“Caetano Veloso and David Byrne Live at Carnegie Hall” não é apenas o registro da apresentação e do encontro de dois ícones mundiais num dos mais prestigiados palcos sagrados, que dispensam as guitarras elétricas e as baterias eletrônicas, optando pela interpretação acústica. Mais do que isso: é a demonstração da universalidade e do poder da linguagem musical. 

“Não vou tentar descrever o que Caetano faz, porque seu trabalho é extremamente variado e não é fácil comparar com ninguém da América do Norte ou da Europa. Se você não estiver familiarizado com seu trabalho, você pode querer experimentar mais de um registro, como eles podem ser muito diferentes um do outro” (“I won’t try and describe what Caetano does because his work is incredibly varied and not easy to compare with anyone in North America or Europe. If you’re unfamiliar with his work you might want to try more than one record, as they can be very different from one another”), relata o próprio David Byrne no encarte do CD.

Portanto, realmente a MTV Brasil teria que fazer “a porra do equipamento funcionar”, como conseguiu depois da reclamação pública e dos intervalos comerciais antecipados emergencialmente naquela edição do programa. Assim, o público poderá saborear extasiado um momento de riqueza inigualável.

[email protected]