Exposição em SP mostra diferentes olhares sobre as cidades

As paisagens das diferentes cidades do mundo podem ser fontes de inspiração riquíssimas para artistas de diversas origens, com focos e interesses variados e que trabalham com diferentes materiais. Essa […]

As paisagens das diferentes cidades do mundo podem ser fontes de inspiração riquíssimas para artistas de diversas origens, com focos e interesses variados e que trabalham com diferentes materiais. Essa parece ser o tema da ótima exposição “7 X Cidade”, em cartaz na Galeria Vitrine da Paulista, na Caixa Cultural São Paulo, até 4 de março.

Com curadoria de Enock Sacramento, a exposição reúne as obras de sete artistas brasileiros – Carlos Bracher, G. Fogaça, Gregório Gruber, Laura Michelino, Marcelo Solá, Marilda Passos e Rubens Ianelli. Três deles são naturais de Goiânia (GO). Nascido em 1967, G. Fogaça apresenta cinco óleos sobre tela de grandes dimensões e muito coloridos em que representa diferentes situações que marcam a agitação de uma grande cidade.

Marcelo Solá tem 40 anos e apresenta telas de fundo preto com desenhos coloridos que se aproximam de traços infantis e se misturam com letras, números e figuras abstratas. A terceira é Marilda Passos, que retrata pontes, áreas de risco e portos numa técnica mista sobre tela que também se aproxima do raio-X e da mancha, numa variação de branco, cinza e preto, e alguns detalhes coloridos.

Natural de Juiz de Fora (MG), Carlos Bracher, de 71 anos, apresenta cinco registros da capital federal, Brasília, igualmente coloridos no óleo sobre tela –  a catedral com seus imponentes evangelistas e depois em seu interior, o Centro Cultural Renato Russo, a Embaixada da Itália e uma vista geral da esplanada.

Porém, as obras que mais chamam a atenção são as do santista Gregório Gruber, de 60 anos, em função do efeito ótico que provoca com suas telas de tons que variam entre cinza e marrom, e registra a rara solidão paulistana, na Avenida Paulista, na Baixada do Glicério, no Trianon, na Praça da República e no Viaduto do Chá, em noites de forte tempestade.

Igualmente impactantes são as aquagravuras realizadas pela paulistana Laura Michelino, que é uma das poucas artistas praticantes desse tipo de produção no mundo e se vale dele para representar enchentes, vistas aéreas do trânsito caótico e uma Avenida Sumaré, curiosamente, bastante tranquila e deserta. A tal técnica de pintura “é obtida mediante impressão com uma matriz feita de elastômeros e borracha sobre uma pasta úmida de celulose, em estado semilíquido, de tal forma que a secagem da massa e da tinta ocorre ao mesmo tempo. Quando a pasta se transforma, finalmente, em papel, a gravura está pronta”, é explicado no catálogo da exposição. Não importa se você não entendeu muito bem o método, pois o resultado, que se aproxima quase de uma radiografia colorida, grosso modo, é encantador.

Há também as esculturas e pinturas do paulistano Rubens Ianelli. Elas fazem parte da série “Cidades Perdidas” e foram criadas com guache sobre termiteiro e chamam atenção por se assemelharem com a Torre de Babel, uma delas, inclusive, protegida por uma caixa de madeira azul. Acompanhando-as, há a imensa tela dedicada a Janaína. Uma característica interessante na biografia desse artista é o importante trabalho que ele tem desenvolvido desde a década de 1980 como médico sanitarista, voltado às comunidades indígenas do Acre.

O mote da exposição parece ter surgido a partir da inspiração no aniversário de São Paulo, megalópole que hoje concentra mais de 20 milhões de pessoas; e no célebre romance “A cidade e as serras”, do escritor português Eça de Queiroz, no qual ele critica a desumanização dos centros urbanos.

No folheto distribuído no museu, o curador explicita o objetivo principal da mostra: “estimular a reflexão sobre a urbe, esta formação urbana original, que apresenta características próprias como localização determinada e certa extensão territorial, organização de espaços, alta concentração humana, heterogeneidade social de seus habitantes e existência de alguns padrões de convivência”. Portanto, “7 X Cidades” nada mais é do que a junção de sete olhares diferentes, mas que, diante do caos e dos problemas, encontram beleza nas cidades.

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