‘A Coleção’, direção certeira de Esther Góes para texto de Harold Pinter

Elenco dirigido por Ester Góes para texto de Harold Pinter, “A Coleção”, em cartaz na região central de São Paulo (Foto: ©Arnaldo Torres/Divulgação) Uma das mais importantes atrizes do teatro […]

Elenco dirigido por Ester Góes para texto de Harold Pinter, “A Coleção”, em cartaz na região central de São Paulo (Foto: ©Arnaldo Torres/Divulgação)

Uma das mais importantes atrizes do teatro brasileiro, Esther Góes assumiu a difícil tarefa, e se saiu muito bem, de dirigir o espetáculo “A Coleção”, do britânico Harold Pinter, que estreou em Londres, em 1962 e, cinquenta anos depois, ganha sua primeira montagem paulistana. O espetáculo, traduzido por Flávio Rangel, estreou na sexta-feira (16 ) em São Paulo, e pode ser visto até 17 de junho (confira abaixo).

Ao lado de Eugène Ionesco e Samuel Beckett, Harold Pinter foi considerado um dos principais representantes do que ficou conhecido como teatro do Absurdo, em função da forma inusitada com que os textos tratam a realidade. É isso que fica claro desde a primeira cena de “A Coleção”.

James entra numa cabine telefônica vermelha, um dos símbolos da Inglaterra, telefona para a casa de Bill e de forma insistente tenta se comunicar com ele. Os dois não se conhecem, mas esse não é um impeditivo para o primeiro partir em busca da confirmação de que sua esposa, Stella, uma reconhecida estilista, o traiu com o rapaz.

O quarto personagem dessa trama é Harry, um homem elegante que vive com Bill e o trata como um capacho. A partir daí, as consequências são inesperadas e marcadas pelo humor refinado e, ao mesmo tempo, ácido de Harold Pinter.

Seria fácil reconhecer a traição como o tema principal do espetáculo. Porém, o fato é que ela serve apenas como ligação entre quatro personagens que dizem frases desconexas e beirando ao nonsense, misturando a sensualidade (em algumas cenas próximas do erotismo, principalmente com Stella) e o humor refinado com a tragédia e a densidade dramática.

Ariel Borghi (que havia dirigido Esther Góes em “Determinadas Pessoas – Weigel”), Amazyles de Almeida, Marcos Suchara e Marcelo Szpektor estão afinados e muitíssimo bem em cena, nessa crítica mordaz a aristocracia britânica.

Mas a qualidade do trabalho de Esther Góes não se restringe à direção de atores. Muito pelo contrário. Apesar de a trama ser ambientada na Inglaterra, da década de 1950, e está ali no meio do palco a cabine vermelha para ninguém se esquecer, há na encenação algo de atemporal. Desse modo, o espetáculo passa a criticar o cinismo e os convencionalismos das elites de qualquer sociedade.

O cenário, criado por Cristina Novaes, conta também com um hall formado por uma escada, uma porta de entrada e duas cadeiras – trata-se da casa de Harry e Bill –, e, na outra metade do palco, uma poltrona e a mesa da sala da residência de Stella e James. 

A iluminação, de Mauro Martorelli, funciona com perfeição tanto para marcar o clima da cena, como para identificar rapidamente onde ela transcorre. Os elegantes figurinos, assinados por Beth Filipecki, também são precisos, uma vez que dois dos personagens estão envolvidos na criação de coleções de moda.

Mas o que chama a atenção mesmo é a qualidade da trilha musical de Aline Meyer, que mistura temas jazzísticos refinados a outros de suspense que, ora produzem um forte efeito dramático, ora acentuam o nonsense. A coreógrafa Dani Hu foi responsável por desenvolver as lutas cênicas.

Serviço
Espetáculo “A Coleção”
Sextas-feiras e sábados, às 21h e domingos, às 20h – até 17 de junho
Ingressos de R$30 a R$60
Teatro Grande Otelo
Alameda Nothmann, 233 – Campos Elíseos – São Paulo/SP
T: (11) 3221-9878

[email protected]

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