Edney Silvestre mistura política, violência e cultura pop em novo romance

O jornalista e escritor Edney Silvestre lança novo romance e solidifica carreira literária (Foto: ©Divulgação) Quando o jornalista Edney Silvestre lançou o romance “Se eu fechar os olhos agora”, em […]

O jornalista e escritor Edney Silvestre lança novo romance e solidifica carreira literária (Foto: ©Divulgação)

Quando o jornalista Edney Silvestre lançou o romance “Se eu fechar os olhos agora”, em 2009, certamente não esperava tornar-se tão rapidamente reconhecido na nova atividade. Mas foi muito além e venceu o mais prestigiado prêmio da literatura brasileira – o Jabuti – numa categoria muito cobiçada, a de melhor romance. Também teve a obra lançada em Portugal, Itália, França e Sérvia. Por isso, foi criada uma grande expectativa em torno de seu segundo e recém-lançado romance, “A Felicidade é Fácil”.

Edney Silvestre se vale de um recurso narrativo que pode ser denominado como “estilhaçado”, em que fragmentos de história aparecem embaralhados temporalmente ao longo dos capítulos. Ou seja, a história começa as 15h43 da segunda-feira, 20 de agosto, e, a partir de então, cada capítulo representa um salto no tempo para frente ou para trás que pode ser apenas de alguns minutos, mas também de vários anos. Não se trata de um recurso inédito e muito menos exclusivo, mas fornece consistência dramática capaz de prender a atenção do leitor da primeira à última página, como fazem os bons romances policiais.

A história começa com a morte de um segurança e motorista, e o sequestro de um garoto. Porém, apenas no segundo capítulo é apresentado o personagem central da narrativa – o bem-sucedido publicitário Olavo Guaimiaba Bettencourt, que faz sua carreira em cima de acordos escusos com políticos e empresários, e que, por isso mesmo, é uma figura pública bastante visada. Porém, a história transcorre também, além de em torno dos três personagens mencionados, ao redor dos sequestradores, que cometem um grande equívoco, que ficará cada vez mais evidente ao longo das páginas.

Claro que não há qualquer intenção aqui de revelar o transcorrer da narrativa de um romance policial, uma vez que ele se sustenta justamente em torno desse suspense criado a cada página. Mas é importante ressaltar a maneira convincente e registrada por um ângulo pouco usual com que Edney Silvestre flagra o comportamento de diferentes classes sociais no que ficou conhecido como Nova República, de 1985 até os dias atuais.

Há cinismo e ironia ao se notar que, quando a campanha das Diretas Já tomava as ruas das cidades, já havia muita gente identificando maneiras de se manter no poder e no controle econômico, político e financeiro do país, sem sofrer grandes abalos. “Oportunidades como aquela surgem apenas uma vez a cada geração, Ernesto compreendia, encantado com as bandeiras vermelhas e verde-amarelas agitadas na praça. Aquele povo todo encontrara um rumo e um objetivo comum. Mesmo que levasse dez anos, e não mais que isso, talvez uns cinco, se o movimento crescesse na proporção que crescia, os militares cederiam. Era a melhor forma de irem colocando seus investimentos e seus herdeiros nas indústrias e postos certos. Permitiriam que o presidente fosse escolhido em eleições diretas. Como aquiesceram com as eleições diretas para os governos estaduais. Haverá candidatos. Genuínos e aventureiros. Os candidatos terão que fazer campanhas. Campanhas eleitorais movimentam milhões. Milhões de dólares. Os empreiteiros contribuem, os pecuaristas contribuem, os industriais contribuem, as multinacionais de petróleo contribuem, as multinacionais de cigarros contribuem, o dinheiro vem de todos os lados. Uma parte dele entra nas campanhas oficialmente. Outra, chega por fora. Aliados como ele e Olavo podem levar esse dinheiro a cofres seguros fora do Brasil. Cobrando um percentual justo, evidentemente”. Maior tapa de pelica na cara da democracia brasileira, impossível.

Outra característica interessante é a maneira como Edney Silvestre trabalha com os fatos da cultura pop em “A felicidade é fácil”. É extremamente prazeroso reconhecer ali, por exemplo, trechos de músicas como “Vogue”, da Madonna; “Another Day in Paradise”, do Phil Collins; “Here We Are”, da Gloria Estefan; “I Will Always Love You”, da Whitney Houston; e “Nuvem de Lágrimas”, sucesso na voz de Chitãozinho & Xororó e Fafá de Belém. Portanto, Edney Silvestre acerta mais uma vez, com um romance policial envolvente e que traça uma radiografia político-cultural do Brasil nos últimos quase 30 anos.

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