Pitty aparece suave e acústica no projeto Agridoce

Capa do CD do projeto paralelo da baiana Pitty, Agridoce, ao lado do guitarrista Martin (©Reprodução) No dicionário, “agridoce” quer dizer algo de sabor acre e doce ao mesmo tempo […]

Capa do CD do projeto paralelo da baiana Pitty, Agridoce, ao lado do guitarrista Martin (©Reprodução)

No dicionário, “agridoce” quer dizer algo de sabor acre e doce ao mesmo tempo ou o azedume que se reveste da aparência de doçura. Por isso, esqueça a imagem da roqueira baiana, de letras contundentes e som um pouco agressivo. A suavidade e a musicalidade acústica é o que marca o projeto paralelo Agridoce, desenvolvido em 2011, pela cantora e compositora Pitty, e pelo guitarrista Martin, e que rendeu um álbum homônimo, lançado no final do ano passado, e no qual impera uma boa dose de humor negro e de clima de filme de terror. Basta observar como a morte e o suicidio estão presentes em muitas letras.

A proposta fica clara na letra e na musicalidade agridoce da faixa de trabalho, “Dançando”, que é uma daquelas que muitos ouvirão em looping: “Eu sei que lá no fundo há tanta beleza no mundo / Eu só queria enxergar / As tardes de domingo, o dia me sorrindo / Eu só queria enxergar / Qualquer coisa pra domar o peito em fogo / Algo pra justificar uma vida morna / O mundo acaba hoje e eu estarei dançando / Com você”.

A canção que abre o álbum é “Embrace The Devil”, que pode ser traduzido como “Abrace o Diabo” e mistura inglês e português. O idioma inglês marca também a psicodélica “Hainy” e o gostoso rock, “Say”, que já faz bastante sucesso. Esse último abre espaço à balada “Romeu”, espécie de versão mais moderna do clássico de William Shakespeare, “Romeu e Julieta”, que termina no suicídio do casal. Tanto romantismo talvez essa seja a canção que mais reflete o atual momento de Pitty, que é casada com o baterista Daniel Weksler, da banda NX Zero.

A sonoridade remete a astros internacionais atuais, como a cantora e compositora norte-americana Cat Power; Eddie Vedder, vocalista e guitarrista da banda grunge Pearl Jam e autor da trilha musical do filme “Na Natureza Selvagem”; e a banda norte-americana Beirut. É o que se percebe em “20 Passos”, cantada por Martin. Outra referência é bandas britpop, caso de Verve e Oasis, em faixas como “Upside Down”.

Há faixas mais sombrias, como a praticamente recitada em francês “Ne Parle Pas”, a forte “O Porto” e “Epílogos”, na qual paira um humor negro bem saboroso: “Primeiro os aniversários / As festas, balões coloridos / Bailes de debutante / As noites em claro / Depois os casamentos / Amores e nascimentos / Por fim, os funerais / As camas de hospitais”. 

O projeto Agridoce foi realizado durante as férias da carreira solo da roqueira. Enquanto as canções foram compostas no centro de São Paulo, onde ela mora, as gravações aconteceram de modo isolado numa casa alugada na Serra da Cantareira. O mais interessante é observar como Pitty conseguiu se desgrudar da imagem que desenvolveu (e lhe impuseram) para demonstrar outra vertente, igualmente autoral, e, pelo visto, muito mais criativa e interessante. 

Essa preocupação de ficar presa a algum pré-julgamento fica clara numa das mais bonitas canções do álbum, a doce “130 Anos”: “Caro é transformar-se num arremedo de si próprio / A ponto de nem se reconhecer mais /… / Tantos laços, tantas amarras, os controles, pretensões / Nada adianta se o vento não soprar / Esse vento sob minhas asas, eu não mando mais em nada / Sei que é alto / Mas eu vou pular”. Nada melhor, portanto, do que o encerramento com a “soturna cantiga de ninar” “Please, Please, Please, Let Me Go What I Want” (“Por favor, por favor, por favor, deixe-me ir para o que eu quero”).

Confira o videoclipe de ‘Dançando’, com Pitty e Martin

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