‘Ciranda’ encerra temporada nos palcos de São Paulo

As atrizes Tania Bondezan e Daniela Galli, em cena de “Ciranda”: últimos dias de um espetáculo comovente (Foto: ©João Caldas/Divulgação) Um dos melhores espetáculos de 2011 está prestes a se […]

As atrizes Tania Bondezan e Daniela Galli, em cena de “Ciranda”: últimos dias de um espetáculo comovente (Foto: ©João Caldas/Divulgação)

Um dos melhores espetáculos de 2011 está prestes a se despedir do circuito teatral paulistano. Trata-se da peça “Ciranda”, estrelada por Tania Bondezan e Daniela Galli, que se desdobram em personagens que vivem diferentes fases da vida. A temporada segue até o próximo dia 22.

Os primeiros aspectos que chamam atenção no espetáculo são os cenários e figurinos criados por Fábio Namatame. O destaque fica por conta dos móveis arrojados e coloridos; as roupas igualmente coloridas; e o sensacional painel de referências aos anos 60, com direito a pôsteres de Janis Joplin, Beatles, Che Guevara e do filme “Casablanca” (que na verdade foi produzido em 1942), misturados com imagens de santos. A trilha musical, formada por clássicos como “Gracias a la Vida” e “Guantanamera”, marcados pela interpretação de Mercedes Sosa, também é emocionante.

Dirigida pelo craque José Possi Neto, a montagem do texto de Célia Regina Forte flui de modo bastante envolvente, mesclando passagens de muito bom-humor com outros do mais puro lirismo. Em alguns momentos, será, inclusive, difícil conter as lágrimas. Afinal, como pano de fundo para os tradicionais conflitos de geração, desenha-se a história do Brasil nas últimas décadas.

Estamos diante da mãe, que foi hippie e se envolveu na luta contra o regime militar nos anos 60 e 70, usou drogas, defendeu o amor livre, possui um restaurante vegetariano e se tornará avó; da filha yuppie, típica dos anos 80, que só pensa em dinheiro, poder e prestígio; e a neta rebelde, que anda com roupa bem colorida e largada, com a cara do mundo globalizado dos anos 2000, e trabalha como aderecista de teatro, num delicioso exercício de metalinguagem.

Os diferentes tipos de pensamentos e crenças dessas três personagens, aliados aos dramas e as manobras da vida que as surpreendem o tempo todo é que fazem dessa história algo extremamente pertinente e emocionante. Ali são tratados temas profundos, como a maneira como essas mulheres encaram, se relacionam e se tornam até dependentes do poder, por exemplo.

Enquanto a mãe hippie defende o prazer da vida, a filha yuppie busca apenas o sucesso profissional e a riqueza, deixando a vida pessoal praticamente de lado. O equilíbrio entre as duas, porém, parece estar na neta nascida nos anos 90, que se inspira nas maluquices da avó, mas também se preocupa com o trabalho, que envolve o universo da fantasia. Essas diferenças e convergências é o que também fará desse espetáculo algo tão rico, o que só é reforçado pelo requinte e bom gosto da montagem, aliado a duas atuações impecáveis.

“Ciranda” é, assim, um espetáculo imperdível, que suscitará muitos questionamentos internos e poderá levar muitos pais e filhos a dialogarem de modo mais livre e direto nos jantares que costumam se seguir a ida ao teatro. Ficamos na torcida, portanto, para que a peça seja levada para várias outras cidades brasileiras e tenha vida longa.

 

Serviço
Até 22 de janeiro. Sextas e sábados, às 21h30, e domingos, às 19h
Ingressos a R$ 50  (sextas e domingos) e R$ 60 (sábados)
Teatro Renaissance – Alameda Santos, 2.233, Cerqueira César. São Paulo/SP
T: (11) 3069-2286

[email protected]

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